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quarta-feira, 28 de maio de 2008

Luis Vaz de Camões.


Glosa a mote alheio

"Vejo-a na alma pintada,
Quando me pede o desejo
O natural que não vejo."

Se só no ver puramente
Me transformei no que vi,
De vista tão excelente
Mal poderei ser ausente,
Enquanto o não for de mi.
Porque a alma namorada
A traz tão bem debuxada
E a memória tanto voa,
Que, se a não vejo em pessoa,
"Vejo-a na alma pintada."

O desejo, que se estende
Ao que menos se concede,
Sobre vós pede e pretende,
Como o doente que pede
O que mais se lhe defende.
Eu, que em ausência vos vejo,
Tenho piedade e pejo
De me ver tão pobre estar,
Que então não tenho que dar,
"Quando me pede o desejo."

Como àquele que cegou
É cousa vista e notória,
Que a Natureza ordenou
Que se lhe dobre em memória
O que em vista lhe faltou,
Assim a mim, que não rejo
Os olhos ao que desejo,
Na memória e na firmeza
Me concede a Natureza
"O natural que não vejo."

Luís de Camões

4 comentários:

r disse...

aquele portão... é uma propriedade privada ou é a tal casa camões?

Unknown disse...

Entrada para o jardim Horto de Camões.

r disse...

hum...
e deixaram o homem no exterior do jardim. camões no exterior do jardim, isto merecia uma reflexão.

Anónimo disse...

ele esta cá fora para tomar banho quando sobe o rio Zêzere. lol
E também para convidar o visitantes a entrar no jardim