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sábado, 24 de maio de 2008

País emerso.

Natália Correia.
Poetisa,ficcionista,autora dramática e ensaísta,Natália de Oliveira Correia nasceu na Fajã de Baixo,ilha de S.Miguel(Açores),a 13 de Setembro de 1923 e faleceu em Lisboa a 16 de Março de 1993;. Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em azul o código de todos
(curtido couro de cicatrizes
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que puseste
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem ?
Que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem ?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejais meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de paixão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde posso escrever.
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

2 comentários:

r disse...

Sim, alguma poesia é para comer; em repasto bem degustado.

Unknown disse...

Nome do poema:A defesa do poeta.

Nota da autora:
-Compus este poema para me defender em tribunal,Plenário de tenebrosa memória,o que não fiz a pedido do meu advogado,que sensatamente me advertiu de que essa minha insólita leitura no decorrer do julgamento comprometeria,agravando a sentença.