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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alumbramentos e perplexidades.



De tanto ver vencer a iniqüidade

de tanto perseverar
e triunfar a incompetência...



Mui alta e nobre jactância

tão rasteira e sobranceira militância

entre contrários e correligionários

viceja a corja de sicários!



Ratos e saúvas subterrâneos

roem e corroem

os alicerces de qualquer regime.



Gente assim posicionada

distribuindo vantagens

sem qualquer merecimento

alastrando-se como enfermidade

por herdades e sesmarias.



O Poeta baiano, horrorizado

vendo que gente alumbrada

de nascença

sendo na vida tão puta

vá na morte tão honrada

ou

de ver ir com honra, morta

quem nunca teve honra em vida.



Que vira nome de rua

busto em pedestal

exemplo de vida

em textos escolares.



De tanto ver o opróbrio

— palavra agora em desuso

mas na prática, resistente



de tanto assistir ao capadócio

— palavra fora de moda –

triunfar e ser exaltado



o Poeta Maldito

— sendo, como foi, um direito entre tortos –

amaldiçoa os seus mortos



uns néscios, que não dão nada

senão enfado infinito.



E confessa, submisso:



Em amanhecendo Deus

acordo, e dou de focinhos...



ouço cantar os passarinhos...



Mas caindo na real

afinal, acredita

que nem tudo anda assim

tão mal, e responde:



Sois um Mecenas da veia

deste poeta nefando

que aqui vos está esperando

com jantar, merenda, e ceia.



Que ninguém é de ferro

e saboreia.


Poema de Antonio Miranda

Ilustração de Humberto Espíndola*

2 comentários:

r disse...

Gramo este António Miranda.
Ele poeta com (a) verdade.

PedrasTuas disse...

Deslumbrada, procuro mais sobre as perplexidades deste poeta da verdade.