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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Vou ali e já volto!


"Sem o amor o homem é apenas um cadáver em férias."

Férias.


Porque há este Sol

Porque há este mar

Porque passam os dias nesta urgência de andar

Porque se calam as aves neste mar de calor

Porque ficam esperas de tempo a cumprir

Porque andamos tão sós à procura do amor

Porque é tão curta a vida e tão longo o penar

Porque ficam os rios sem pressa de ir

Porque estamos para aqui a voar, a voar

Porque queremos partir não sabendo chegar

Porque somos o vento no monte a bater

Porque há tanta flor a abrir e secar

Porque é tão fugaz o restolho a arder


Porque há este Sol

Porque há este mar

Porque vamos de férias quando há tanto a fazer ...

Silêncio.


Quando se acaba de ouvir um trecho de Mozart, o silêncio que se lhe segue ainda é dele ...

terça-feira, 28 de julho de 2009


Pergunte à mamãe






Esta é uma conversa de mãe para filha, do tempo em que as moças que iam casar perguntavam às mães sobre a noite de núpcias. Ela explica talvez um pouco porque deixaram de perguntar.

— É assim, minha filha. O importante é não ficar nervosa. Na hora ele bota uma valsinha na vitrola, pede pra você pegar a sombrinha e ir andando na corda bamba. Você já deve estar preparada, de saiote, e sem nada por baixo. Isso é importante. Ele senta numa cadeira e fica olhando pra cima e assobiando como se não fosse com ele. Você se concentra na música, vai botando um pezinho na frente do outro, sempre sorrindo e mandando beijinhos como se tivesse gente assistindo. Assim ele fica mais excitado. Quando você estiver bem distraída, ele faz "u!", você se assusta, perde o equilíbrio e cai escanchada no colo dele. Ele faz "ú!" de novo mas aí com outra entonação. É assim, minha filha.

— Ah — fez a moça e foi se preparar não muito convencida, pois a mulher do engolidor de fogo tinha lhe ensinado diferente.

(Por Fortuna)

imaginação !


Querida imaginação, o que mais me agrada em ti é nunca perdoares ...

Não Posso Adiar o Amor




Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Férias.


No amor não há férias nem nada que se pareça. O amor deve viver-se plenamente, com o seu aborrecimento e com tudo ...

Noite por Ti Despida




Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros
cansados. Reflexos
coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho. A noite
por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.

Casimiro de Brito, in "Solidão Imperfeita"

Palavras.


Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem. Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida se me afigura iluminada por outra claridade. Há momentos em que cada um grita: - Eu não vivi! eu não vivi! eu não vivi! - Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. A vida é só isto?

Raul Brandão.

domingo, 26 de julho de 2009

Vale pena ficar...


Recebi do blog entremeios o selo acima. Agradeço a lembrança e indico os sites abaixo que mais visito.
http://africaempoesia.blogspot.com/
http://vivereafinaroinstrumento.blogspot.com/
http://pedrastuas.blogspot.com/
http://sandraregina7.blogspot.com/
http://ofradinhas.blogspot.com/
http://isa-momentosmeus.blogspot.com/
http://metafisicadacoincidencia.blogspot.com/
http://fernananda55.blogspot.com/
http://sandraandrade8.blogspot.com/
http://angelabeneguedes.blogspot.com/
Regras:
a)-Exibir a imagem do seloem local de destaque. b)Postar o linl do blog que indicou(importante). c)-Indique 10blogs de s/ preferência e avise aos indicados, publicando as regras. d)-Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras.

O Mais Infalível Veneno é o Tempo!



Tabaco, café, álcool, ácido prússico, estricnina — todos não passam de poções diluídas: o mais infalível veneno é o tempo. Essa taça, que a natureza nos põe nos lábios, possui uma propriedade maravilhosa que supera qualquer outra bebida. Ela abre os sentidos, adiciona poder e povoa-nos de sonhos exaltados, a que chamamos esperança, amor, ambição, ciência. Em particular, ela desperta o desejo por maiores doses de si. Mas aqueles que tomam as maiores doses ficam embriagados, perdem estatura, força, beleza e sentidos, e terminam em fantasia e delírio.

Ralph Waldo Emerson.

Dúvida




Tudo para mim é um duvidar
Com a normalidade sempre em cisão,
E o seu incessante perguntar
Cansa meu coração.
As coisas são e parecem e o nada sustém
O segredo da vida que contém.

A presença de tudo sempre perguntando
Coisas de angústia premente,
Em terrível hesitação experimentando
A minha mente.
É falsa a verdade? Qual o seu aparentar
Já que tudo são sonhos e tudo é sonhar?

Perante o mistério vacila a vontade
Em luta dividida dentro do pensar,
E a Razão cede, qual cobarde,
No encontrar
Mais do que as coisas em si revelam ser,
Mas que elas, por si só, não deixam ver.

Alexander Search, in "Poesia"

Para todos os avós do mundo.


A casa de meus avós

Ah! Como é legal a casa dos meus avós,
Lá eu posso tudo,
Lá eu faço tudo,
Lá eu sujo tudo,
E na hora de brigar....
Ao invés de apanhar,
Lá eu levo um beijo
Avós poderiam durar para sempre
Eles são especiais
Amam a gente, com mais força que os pais
Pois são pais por duas vezes
E multiplicam este sentimento sem saber
E nos sufocam de tanto querer...
Feliz de quem os tem,
Pois são muito especiais,
As vezes se parecem velhinhos
Mas são tão bonitinhos
Que dá vontade de guardar...
Lá no fundo do coração,
E tê-los..., sempre na hora da precisão.


de Andréa P. Predolin Libanori

sábado, 25 de julho de 2009

Fala-me de amor.

Sequer imagina...

Dúvidas!!!


Quando somos amados, não duvidamos de nada. Quando amamos, duvidamos de tudo

Se a Luz Tivesse Beiços


Se a luz tivesse beiços rir-se-ia
de quem fecha os olhos para ver
do claro dia apenas sombra e esquivando o perigo
de uma relação íntima com a dúvida

não ousou nunca
dar-lhe o braço, para não sentir
o corpo dela a enlaçar o seu, e provar-lhe
da carne o inesperado gosto.

Júlio Pomar, in "TRATAdoDITOeFEITO"

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os amigos são...

Romance de Nós .




Estou à beira do mar,
estou à beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que não vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
não quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que não pôde ser.
Que resta do amor
a quem é como nós?
Envergonha-me pôr
em verso: «somos sós;
sós como amanhecer
às avessas do mundo;
sós como podem ser
as areias no fundo;
somos sós e sabê-lo
é negar o pronome
que de nós fez novelo
e por nós se consome».

Luis Filipe Castro Mendes,

A Escola.



Não podemos negar que a escola não deu aos seus alunos todas as possibilidades que lhes devia dar, desprezou os mal dotados, obrigou-os a actos ou tarefas que lhes depuseram na alma as primeiras sementes do despeito ou da revolta, lhes deu, pelo quase exclusivo cuidado que votou ao saber, deixando na sombra o que é o mais importante — formação do carácter e desenvolvimento da inteligência —, todas as condições para virem a ser o que são agora; se não saíram da escola com amor à escola, a culpa não é deles, mas da escola. Acresce ainda que, lançados na vida, a escola nunca mais procurou atraí-los, nunca mais foi ao encontro dos seus antigos alunos, para lhes aumentar a cultura, os informar e esclarecer sobre novas orientações de espírito, para lhes pedir a sua colaboração, o seu interesse na educação das gerações mais moças. Houve um corte de relações, quando a sua manutenção poderia ainda de algum modo apagar as más lembranças que os alunos levavam. Que admira que sintamos agora à nossa volta paixão e rancor? Tivemo-los nas nossas mãos e não fizemos por eles tudo quanto podíamos, mesmo com as possibilidades económicas e pedagógicas de que nos cercara o meio; em nós temos de reconhecer o principal defeito; por consequência, também em nós a principal causa do ataque.

Agostinho da Silva

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Declaração.

Diário duma Mulher.




Meu rosto já tem vincos de cansaço.
Murcharam como as rosas minhas faces.
Já não posso estreitar-te num abraço,
sem temer, meu Amor, que não me abraces!

O luar nos meus olhos fez-se baço.
Meus lábios, se algum dia tu beijasses!...
Meu passado, porém, morreu no espaço,
qual nuvem que em chuvisco transformasses!

O futuro não tem de que viver.
O amor — raízes mortas que não nascem —,
os sonhos, estão como se embarcassem

num cruzeiro de calma, sem saber
que o é... Mas essa calma hoje é sinónimo
de um sentimento misterioso, anónimo...

Isabel Gouveia, in "Atrás do Tempo" em>

Sentimentalismo!


Sentimentalismo é o nome que damos aos sentimentos que não partilhamos .

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Admirar!


Admiramos o mundo através do que amamos ...

À Espera do Amado




Disse-me baixinho:
— Meu amor, olha-me nos olhos.
Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe:
— Vai-te embora.
Mas ele não foi.
Chegou ao pé de mim e agarrou-me as mãos...
Eu disse-lhe:
— Deixa-me.
Mas ele não deixou.

Encostou a cara ao meu ouvido.
Afastei-me um pouco,
fiquei a olhá-lo e disse-lhe:
— Não tens vergonha? Nem se moveu.
Os seus lábios roçaram a minha face.
Estremeci e disse-lhe:
— Como te atreves?
Mas ele não se envergonhou.

Prendeu-me uma flor no cabelo.
Eu disse-lhe:
— É inútil.
Mas ele não fez caso.
Tirou-me a grinalda do pescoço
e abalou.
Continuo a chorar,
e pergunto ao meu coração:
Porque é que ele não volta?

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"

Frases feitas...

terça-feira, 21 de julho de 2009

A de Sempre, Toda Ela .




Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.

O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula
[através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.

Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te
[conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e
[a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu
[próprio.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras

Abrangência Literária .



Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influi no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo - o futuro.

Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'

Caminhos.


O amor é uma luz que não deixa escurecer a vida ...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Amor e o Tempo .




Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!

António Feijó, in 'Sol de Inverno' O Amor e o Tempo

Para o outro lado do Altântico.

Rosto.


Por vezes à noite há um rosto . Que nos olha do fundo de um espelho . E a arte deve ser como esse espelho . Que nos mostra o nosso próprio rosto .

domingo, 19 de julho de 2009

Partir

Procurar!


O maior paradoxo do desejo não está em procurar-se sempre outra coisa: está em se procurar a mesma, depois de se ter encontrado...

Poesia




é a visita do tempo nos teus olhos,
é o beijo do mundo nas palavras
por onde passa o rio do teu nome;
é a secreta distância em que tocas
o princípio leve dos meus versos;
é o amor debruçado no silêncio
que te cerca e que te esconde:
como num bosque, lento, ouvimos
o coração de uma fonte não sei onde...

Vítor Matos e Sá, in 'Esparsos'

sábado, 18 de julho de 2009

Subjectividades


Pintura de Luís de Sá no Posto de Turismo de Constância - Subjectividades
De 18 de Julho a 2 de Agosto a sala de exposições do Posto de Turismo de Constância tem patente ao público uma exposição de pintura denominada Subjectividades, da autoria de Luís de Sá.

A mostra tem a sua inauguração marcada para o próximo sábado, dia 18 de Julho, pelas 16.00H.

Subjectividades é uma mostra de pintura em que a pincelada subjectiva predomina nos quadros, não dando quase importância aos pormenores nem ao mundo objectivo, mas sim ao conjunto e ao pensamento.

Utilizando como ferramenta a interpretação, onde se pode ampliar, diminuir e suprimir tanto na cor como no desenho, é uma pintura que está entre o impressionismo e o expressionismo. Impressionismo porque alguns destes quadros foram realizados directamente em contacto com o motivo dando relevância aos efeitos cambiantes da luz e apoiando-se na teoria da cor. Expressionismo porque é uma pintura, instintiva, dramática e subjectiva utilizando por vezes cores irreais com dinamismo, improvisado, abrupto e inesperado.

Nesta exposição onde se encontram paisagens, desenhos marítimos e retratos é possível apreciar várias técnicas como pintura a óleo, pintura em acrílico, aguarela e desenhos a carvão.

Subjectividades tem as suas portas abertas nos dias úteis das 9.30H às 13.00H e das 14.30H às 17.30H, e nos sábados e domingos das 14.30H às 18.00H.

Por CMC

Desejo!

Janela do Sonho .




Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Erotismo .






Os homens mais novos não entendem o... como é que vocês dizem?... o erotismo. Até aos quarenta, caímos sempre no mesmo erro, não sabemos libertar-nos do amor: um homem que, em vez de pensar numa mulher como complemento de um sexo, pensa no sexo como complemento de uma mulher, está pronto para o amor: tanto pior para ele.

André Malraux, in 'A Estrada Real'

Homem Inacabado




Todas as árvores com todos os ramos com todas
[as folhas
A erva na base dos rochedos e as casas
[amontoadas
Ao longe o mar que os teus olhos banham
Estas imagens de um dia e outro dia
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas
[obstinadas
As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos
[lábios virgens
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A semelhança dos olhares consentidos com os
[olhares conquistados
A confusão dos corpos das fadigas dos ardores
A imitação das palavras das atitudes das ideias
Os vícios as virtudes tão imperfeitos

O amor é o homem inacabado.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

Partir.


Quantas vezes descobri onde deveria ir, apenas por partir para um outro lugar ...

quinta-feira, 16 de julho de 2009


Tentação .



Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"

Ser Diferente.



A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

Jardins Proibidos



[Em especial para a minha querida amiga Fátima.]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Idade não nos Torna mais Sábios



As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermo-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida. Mas ele não pode dizer que se tornou melhor, e, em alguns aspectos, é igualmente provável que ele esteja certo aos vinte ou aos sessenta. Vemos o mundo de um modo a partir da planície, de outro a partir do topo de uma escarpa, e de outro ainda dos flancos de uma cordilheira. De alguns desses pontos podemos ver uma porção maior do mundo que de outros, mas isso é tudo. Não se pode dizer que vemos de modo mais verdadeiro de um desses pontos que dos restantes.

Johann Wolfgang von Goethe,

Desejo Indomável




Como corre a gazela
pela sombra dos bosques,
enlouquecida pelo próprio perfume,
assim corro eu, enlouquecido,
nesta noite do coração de maio
aquecida pela brisa do Sul.

Perdi o caminho
e erro ao acaso.
Quero o que não tenho,
e tenho o que não quero.

A imagem do meu próprio desejo
sai do meu coração
e, dançando diante de mim,
cintila uma e outra vez,
subitamente.

Quero agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe, chama-me outra vez
do atalho ...
Quero o que não tenho
e tenho o que não quero.

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"

Juntos.


Para estar junto não é preciso estar perto, mas sim do lado de dentro.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Do livro :O vencedor está só.


A gaivota voava por cima de uma praia no Golfo,quando viu um rato.Desceu dos céus e perguntou ao roedor:
-Onde estão as tuas asas ?
Cada bicho fala um idioma,o rato não percebeu o que ele disse;mas reparou que o animal que estava á sua frente tinha duas coisas estranhas e grandes a sair do corpo.
'Deve sofrer de alguma doença'pensou o rato.
A gaivota percebeu que o rato olhava fixamente para as suas asas:
-Pobrezinho,foi atacado por monstros que o deixaram surdo e lhe roubaram as asas.
Compadecida,pegou-lhe com o bico e levou-o a passear nas alturas.'Pelo menos mata saudades',pensava,enquanto voavam.
Depois com todo o cuidado,posou-o no chão.
O rato,durante alguns meses,tornou-se uma criatura profundamente infeliz;tinha conhecido as alturas,viu um mundo vasto e belo.
Mas, com o passar do tempo,acabou por se habituar novamente a ser rato e achou que o milagre que tinha acontecido na sua vida não psava de um sonho.

Paulo Coelho.

Coisas diferentes.


Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama .

Se um Dia a Juventude Voltasse ...




se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Inconveniente da Razão



O filósofo Pírron, encontrando-se num barco num dia de grande tormenta, mostrava aos que via mais apavorados ao seu redor um porquinho que lá estava, nem um pouco preocupado com aquela tempestade, e encorajava-os com o seu exemplo. Ousaremos dizer então que esse privilégio da razão, que tanto celebramos e por causa do qual nos consideramos donos e imperadores do restante das criaturas, tenha sido colocado em nós para tormento nosso? De que adianta o conhecimento das coisas se com isso perdemos o repouso e a tranquilidade que sem ele teríamos, e se nos torna de condição pior do que o porquinho de Pírron? A inteligência que nos foi dada para nosso maior bem, empregá-la-emos para nossa ruína, lutando contra o desígnio da natureza e contra a ordem universal das coisas, que indica que cada qual use os seus instrumentos e meios para benefício próprio?

Michel de Montaigne, in 'Ensaios'

Livro do Amor




O mais singular livro dos livros
É o Livro do Amor;
Li-o com toda a atenção:
Poucas folhas de alegrias,
De dores cadernos inteiros.
Apartamento faz uma secção.
Reencontro! um breve capítulo,
Fragmentário. Volumes de mágoas
Alongados de comentários,
Infinitos, sem medida.
Ó Nisami! — mas no fim
Achaste o justo caminho;
O insolúvel, quem o resolve?
Os amantes que tornam a encontrar-se.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Divã Ocidental-Oriental"

Caminhar.


"O homem requer sempre uma inatingível meta, uma esperança vã, um descontentamento, que o incite a caminhar para a frente. "