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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Amar é Raro.




Amar é dar, derramar-me num vaso que nada retém e sou um fio de cana por onde circulam ventos e marés. Amar é aspirar as forças generosas que me rodeiam, o sol e os lumes, as fontes ubérrimas que vêm do fundo e do alto, água e ar, e derramá-las no corpo irmão, no cadinho que tudo guarda e transforma para que nada se perca e haja um equilíbrio perfeito entre o mesmo e o outro que tu iluminas. Dar tudo ao outro, dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar, e mais e mais; obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência, fulguração, mas não tanto que o fira ou destrua em overdose que o leve a romper o contrato — o difícil equilíbrio dos amantes! Amar é raro porque poucos somos capazes de respirar as vastas planícies com a metade do seu pulmão; e amar é raro porque poucos aceitam a presença do seu gémeo, a boca insaciável de um irmão que todos os dias o vento esculpe e destrói.

Casimiro de Brito, in 'Arte da Respiração'

4 comentários:

r disse...

E o inverso, caríssimo, não pode ser?



Amar é comum.

Amar é recebedar, verter num vaso que acolhe, ondulando, como o vento e as marés. Amar é ocasionar, por mútuas forças, um equilíbrio que vai do verso ao reverso e do reverso ao verso; a perfeição é o ideal. Amar é centrar-se em si mesmo, condição prévia de ser capaz de dar e sair para o outro; dar somente as verdades que o outro possa suportar, sem omissão, obrigação ou imposição: as verdades, enfim... meigamente e, cada uma, no tempo certo. Se houver overdose que seja a um tempo ou cada um no seu ritmo.
Amar é comum, porque é a natural condição do ser humano, vezes muitas, transformada em maleita guerreira ou desejo de colonizar o outro. Amar é cousa líquida, mas as bocas insaciáveis bebem e comem tudo. Cuidado!, «não dar o corpo pela alma»! Amar é comum e, no amor, são sempre duas [as outras cenas são muitaaaaa esquisitas]as respirações: a minha e a do meu gémeo irmão. Humanamente, Todos os dias, uns mais do que outros, esculpo nele e para ele, como se dominasse a arte de esculpir ou a arquitectura orgânica.

Rosa Oliveira, "Bitaites Anti-platónicos"

Unknown disse...

Boa Rosa, gostei.

Jinhos.

Rosan disse...

Manuel.
o amor, é raro mesmo, raro de se encontrar no sentido de amor entre duas pessoas, amor verdadeiro, amor incondicional.

já o amor fraterno de amizade é um amor mais tranquilo, que exije menos, que conpreende mais...
apóia, ajuda, estende a mão...AMOR AMIGO...
um abraço,
Rosan

angela disse...

Lindo.
Beijos