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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Tempestade do Destino.




Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

10 comentários:

r disse...

Caríssimo, tomo a liberdade de sugerir The End para acompanhar a leitura...

não sei se Murakami gostaria de sugestão... tão quase freudiana

ih ih ih ih ih

r disse...

Eco Homo:

http://www.youtube.com/watch?v=NoBFhdeR9PE&feature=related

Regina Rozenbaum disse...

Nooossa Manuel, começou a semana com força total!!!! Tive que respirar fundo...
Beijuuss n.c.
Regina
www.toforatodentro.blogspot.com

Guma disse...

Olá Manuel.
Foi um prazer ler esta tempestade que ninguém segura. Por vezes é assim que bate. E quando bate tão fundo, não interessa repisar o mesmo trilho... tem de se ir em frente, novas escolhas, novos caminhos.
Kandandus

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO AMIGO, MARAVILHOSO TEXTO... ADOREI...!
ABRAÇOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

angela disse...

Muito denso o texto, assustador até.
beijos

Sandra disse...

Agradeço o seu carinho e retribuo a sua amizade.
Passe no blog da Curiosa e pegue acesso aos blogs Poetas um Voo Livre e Sinal de Liberdade.
Tem selinho lá para vc.
Te espero.
São bem especiais.
Com muito amor eu te espero lá.
Sandra

Não esqueça em meus mimos http://sandraandrade7.blogspot.com
tem uma indicação para vc.
Sandra

Graça Pereira disse...

"...Quando saires da tempestade, já não serás a mesma pessoa"...Vimos mais vazios mas, penso que mais fortes!!
Um beijo e uma boa semana...sem tempestades!!
Graça

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rosan disse...

Manuel.
estamos no meio da tempestade o tempo todo, a entendo como a vida, que passa por nós....mas se a enfrentamos nós é que passamos por ela...
só assim existe aprendizado...

beijo