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quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Interior da Alma.




O olho do espírito em parte nenhuma pode encontrar mais deslumbramentos, nem mais trevas, do que no homem, nem fixar-se em coisa nenhuma, que seja mais temível, complicada, misteriosa e infinita. Há um espectáculo mais solene do que o mar, é o céu; e há outro mais solene do que o céu, é o interior da alma.

Fazer o poema da consciência humana, mas que não fosse senão a respeito de um só homem, e ainda nos homens o mais ínfimo, seria fundir todas as epopeias numa epopeia superior e definitiva. A consciência é o caos das quimeras, das ambições e das tentativas, o cadinho dos sonhos, o antro das ideias vergonhosas: é o pandemónio dos sofismas, é o campo de batalha das paixões. Penetrai, a certas horas, através da face lívida de um ser humano, e olhai por trás dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade. Há ali, sob a superfície límpida do silêncio exterior, combates de gigante como em Homero, brigas de dragões e hidras, e nuvens de fantasmas, como em Milton, espirais visionárias como em Dante. Sombria coisa esse infinito que todo o homem em si abarca, e pelo qual ele regula desesperado as vontades do seu cérebro e as acções da sua vida!

Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

5 comentários:

Manuela Freitas disse...

Está admirável este texto, que eu não conhecia, de tanta exactidão que contém! De facto a alma humana é um mistério, a nossa e a dos outros!...
Beijinhos,
Manú

Essência e Palavras disse...

Belissimo este texto eu nao conhecia.Muito lindo.

beeejo meu!

Unknown disse...

Belo texto, Manuel.
Passei por aqui para marcar presença.


Abraços do tamanho do oceano que nos separa.

angela disse...

Mestre é mestre. Lindo texto.
beijos

Uma aprendiz disse...

Lindo texto.

E, sendo repetitiva com os demais, óbvio, que eu também não conhecia kkkk
Me perco tanto em viagens em mim mesma; em perocupações com meu próprio umbigo que..... ai de minha alma.
Ela me tolera enquanto eu luto tentando me conhecer...
Quem dera!


beijos