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sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Tempestade do Destino ...




Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

14 comentários:

Fernando Santos (Chana) disse...

Belo texto e imagem...Espectacular....
Um abraço

orvalho do ceu disse...

Olá, Manuel
As tempestades servem para o nosso cresciemnto interno... elas são "úteis"... nos ensinam o que ignoramos e ainda tem a vantagem de nos colocar mais firmes para as futuras... Ainda bem!!!
Abraços fraternais de paz e excelente fim de semana pra vc.

Nilce disse...

Manuel

Essas tempestades nos machucam , nos tiram do prumo, nos trazem o pensamento de que nunca vão passar.
Mas depois, se formos firmes e fortes, veremos quão necessária ela nos foi.
As tempestades servem para o nosso crescimento e aprendizado.

Linda a poesia meu querido.
Falar de amor e mar me encanta muito.

Tenha um excelente domingo.

Bjs no coração!

Nilce

Anónimo disse...

O sangue da fuga do próprio destino nos é cobrado todos os momentos. Não adianta resistir, não é?

DE-PROPOSITO disse...

Um texto que diz tanta coisa. No entanto, e por vezes, somos nós que forçamos o destino, não temos forças para orientar o destino.
---
Um abraço
Manuel

Entrevidas disse...

Desejo a voce um Bom domingo. Beijos

Luna disse...

As tempestades nascem para as enfrentarmos, aprendermos como de futuro as podemos evitar e sair mais fortes do que éramos antes
Bj

Anónimo disse...

Oi...

Fiquei impressionda com o texto...

Muito reflexivo...


Bjos querido amigo!


Zil

Milene Lima disse...

Uau!!! Que texto mais forte, gostei demais.

O bom é quando saímos inteiros por fora depois dessas tormentas, e por dentro completamente renovados e mais fortes.

Beijos, querido.

Rosan disse...

OLÁ
É ASSIM QUE FAÇO, ME FECHO PARA TUDO E DEIXO A TEMPESTADE ME LEVAR PARA ONDE ELA QUIZER, SEI SER A ÚNICA FORMA DE ATRAVESSA-LA, E DE APRENDER O QUE ELA TEM A ME ENSINAR

BEIJO NO CORAÇÃO

Anónimo disse...

Muito interessante este texto.
Embora a fazer uma pausa preocupo-me
com as pessoas...
Sou maluquita mesmo,verdade?
Beijo.
isa.

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Manuel. Aprendi com a vida a não remar contra a maré. Entrar na tempestade de areia é o melhor caminho para se sair mais fortalecido. Beijos. Linda imagem e belo poema deixado no Arca. Grata.

Glorinha L de Lion disse...

Que esplêndido texto, querido Manuel. Nunca li esse autor, mas já me interessei por causa de teu post...a Loli tb fala muito nele, deve ser ótimo! Beijos,

Mara Santos disse...

Oi....eu não conhecia este escritor.
Gostei do que li.
Bjs