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terça-feira, 11 de novembro de 2008
Conselhos de economia.
O Governo fez deduções e devoluções do IRS. Se gastarmos esses montantes na Zara, o dinheiro vai todo para a China. Se o gastarmos em combustível, ele vai direitinho para os árabes. Se comprarmos um computador, o dinheirito irá para a Índia, China e Taiwan ou Formosa.
Se comprarmos produtos hortícolas, o dinheiro vai para Espanha, França ou Holanda, pela certa. Se comprarmos um bom carro, o destino do dinheiro será a Alemanha. Se comprarmos inutilidades, ele vai para a Formosa. Nenhum desse dinheiro ajudará a economia nacional.
A única maneira de manter esse dinheiro dentro de portas é gastá-lo em p**tas e vinho verde, que são os únicos produtos ainda produzidos em Portugal.
Verdes são os campos.
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasteis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Luís de Camões
Quentes e boas.
Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.
Ary dos Santos
Armistício.
O Armistício de Compiègne foi um tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão de trem na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades no front ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais signatários foram o Marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe aliado, e Matthias Erzberger, representante alemão.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Descalça vai para a fonte.
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai formosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à formosura.
Vai formosa e não segura.
Luís de Camões
domingo, 9 de novembro de 2008
Pablo Neruda.
Caminhos.
Tuas roupas.
Tuas roupas no meu
guarda-roupa têm mais
intimidade do que os
nossos corpos na cama.
Uma certa fricção ou
fruição macia e fria
de corpos prostrados
um roce, uma prega
do tira e põe do cabide.
Lado a lado são vestes
nuas, tuas, cruas
com vestígios de
felicidade.
Talvez por contágio
proximidade
sofreguidão, ressábio
presságio e ausência.
Roupas despidas de ti
vazias, contidas
guardando as formas
de tua liberdade.
Um certo fetichismo
de abandono
resquícios de suor
e perfume, dobras
quem sabe manchas.
Visito tuas roupas
com as narinas
com os dedos
solitários.
Superfícies aveludadas
amarfanhadas, repassadas
revisitadas
meias e ceroulas
misturadas com sutiãs
e gravatas na gaveta
alicates, dedais
preservativos
em estado de inação
e promiscuidade.
Uma carência de botões
bolsos, beiradas
desejos encardidos
preteridos
postergados.
Poema de Antonio Miranda.
sábado, 8 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Livros.
Exposição de Fotografia em Constância .
Palácio de Belém
De 10 a 14 e de 23 a 30 de Novembro o Cine-Teatro Municipal de Constância vai ter patente ao público a Exposição de Fotografia denominada Palácio de Belém.
A mostra será inaugurada na próxima segunda-feira, dia 10 de Novembro, pelas 15 horas, numa cerimónia que será presidida pelo Secretário-Geral da Presidência da República, Dr. Arnaldo Pereira Coutinho.
Com a dinamização da iniciativa a Câmara Municipal de Constância e o Museu da Presidência da República pretendem assinalar um dos mais importantes marcos históricos da História de Portugal do século XX, a Implantação da República a 5 de Outubro de 1910.
A exposição poderá ser visitada no seguinte horário: De 10 a 14 de Novembro das 9 às 12.30H; de 23 a 30 de Novembro: dia 23, das 15.00H às 21.00H; de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H; na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H; sábado das 14.00H às 21.30H; domingo, dia 30, das 14.00H às 19.00H.
Por CMC
A fome do primeiro grito.
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
Hilda Hilst.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Jornais.
Mar.
o mar sem fissuras
um mar sem vincos, estrias
um mar-amplidão
sem marcas, em movimento
mar a que tudo vai
mar adiante, mar amor
cemitério de tudo, que tudo
suga: mar em que deposito
dúvidas, dádivas, devaneios
mar mar mar em ondas
petrificadas, em versos mar
ginais = vaginas = ostras
ostra(cismo) do mar
mar-útero, mártir(io)
m a r
adentro
adentr
adent
aden
ade
ad
(m) a (r)
quando ao mar tudo vier
o mar será isso tudo
= mar sem margens
mar .
Poema de António Miranda.
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