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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Recordando...




Bom fim de semana para todo o mundo.

O espantalho.





Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha

Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste

Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo

Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço

Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos

Vivo abismado e só
Escancarado sob a luz dos astros

(Irema Macedo)

Cinema.


O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho .

As Pessoas são Como os envelopes.



As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...

Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Transforma-se o amador na cousa amada.




Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

Ser ou não ser...


Quem não quer ser urso, não lhe veste a pele!

Ausência.


Em amor, a ausência, quando não é o maior dos males, é o melhor dos remédios.

Tempo.




Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco



A XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco, organizada pela Câmara Municipal de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O'Neill, decorrerá de 23 a 30 de Novembro, no Cine-Teatro Municipal de Constância, constituindo-se como um momento anual de promoção do Livro e da Leitura.

No domingo, dia 23, a inauguração da Feira do Livro e do Disco decorrerá às 15.00H, ao que se seguirá o espectáculo de teatro Felizmente há luar de Luís Sttau Monteiro, representado pelo Teatro Meia Via - Associação Cultural de Torres Novas.

Na segunda-feira, dia 24, às 10.00H, 11.00H, 14.00H e 15.30H ocorrerá a actividade Constância à Escrita, tendo como interveniente o ilustrador Pedro Leitão.

Na terça-feira, dia 25, às 10.00H, decorrerá a actividade de animação e promoção da leitura O Cantinho das Histórias, dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Pelas 14.00H o espectáculo Livro que ladra não morde, apresentado pela Associação Cultural e Pesquisa Teatral A Gaveta.

Na quarta-feira, dia 26, às 10.00H e 11.00H a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Fortes da Cunha. Pelas 14.30H terá lugar o 4º Encontro Confluências, organizado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância.

Na quinta-feira, dia 27, às 10.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 14.00H e 15.00H, a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Ducla Soares.

Na sexta-feira, dia 28, às 10.00H e 14.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 21.00H o espectáculo Vieira, a voz visível pelo grupo de Teatro Há Cultura.

Durante o fim-de-semana, dias 29 e 30, a partir das 14.00H, terá continuidade a actividade de animação O Cantinho das Histórias, terminando a XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco no domingo, às 19.00H.

O certame estará aberto ao público no domingo, dia 23, das 15.00H às 21.00H, de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H, na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H, sábado das 14.00H às 21.30H e no domingo, (dia 30) das 14.00H às 19.00H.

Por CMC

Caminhos.


O caminho com menos obstáculos é o caminho do perdedor .

Conserto a palavra.




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria, in "Homens que São como Lugares Mal Situados

Relendo Eça de Queiroz.


A Cidade e as Serras é uma deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.

terça-feira, 11 de novembro de 2008


O Mirante - diário online - Política - António Mendes faz balanço do mandato com Governo como “bombo da festa”

Conselhos de economia.


O Governo fez deduções e devoluções do IRS. Se gastarmos esses montantes na Zara, o dinheiro vai todo para a China. Se o gastarmos em combustível, ele vai direitinho para os árabes. Se comprarmos um computador, o dinheirito irá para a Índia, China e Taiwan ou Formosa.
Se comprarmos produtos hortícolas, o dinheiro vai para Espanha, França ou Holanda, pela certa. Se comprarmos um bom carro, o destino do dinheiro será a Alemanha. Se comprarmos inutilidades, ele vai para a Formosa. Nenhum desse dinheiro ajudará a economia nacional.
A única maneira de manter esse dinheiro dentro de portas é gastá-lo em p**tas e vinho verde, que são os únicos produtos ainda produzidos em Portugal.

Verdes são os campos.




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasteis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Quentes e boas.


Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.

A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.

Ary dos Santos

Armistício.




O Armistício de Compiègne foi um tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão de trem na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades no front ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais signatários foram o Marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe aliado, e Matthias Erzberger, representante alemão.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Descalça vai para a fonte.




Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai formosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à formosura.
Vai formosa e não segura.

Luís de Camões

Velhos são os trapos.III

Fantasias.


Só a fantasia permanece sempre jovem; o que nunca aconteceu nunca envelhece .

domingo, 9 de novembro de 2008

Pablo Neruda.


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Caminhos.


O degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar o pé o tempo necessário para que o homem coloque o outro pé um pouco mais alto.

Tuas roupas.



Tuas roupas no meu
guarda-roupa têm mais
intimidade do que os
nossos corpos na cama.

Uma certa fricção ou
fruição macia e fria
de corpos prostrados
um roce, uma prega
do tira e põe do cabide.

Lado a lado são vestes
nuas, tuas, cruas
com vestígios de
felicidade.

Talvez por contágio
proximidade
sofreguidão, ressábio
presságio e ausência.

Roupas despidas de ti
vazias, contidas
guardando as formas
de tua liberdade.

Um certo fetichismo
de abandono
resquícios de suor
e perfume, dobras
quem sabe manchas.

Visito tuas roupas
com as narinas
com os dedos
solitários.

Superfícies aveludadas
amarfanhadas, repassadas
revisitadas
meias e ceroulas
misturadas com sutiãs
e gravatas na gaveta
alicates, dedais
preservativos
em estado de inação
e promiscuidade.

Uma carência de botões
bolsos, beiradas
desejos encardidos
preteridos
postergados.


Poema de Antonio Miranda.

Velhos são os trapos. II

sábado, 8 de novembro de 2008

Velhos são os trapos.


Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje, é um peso .

Caminhos.


Caminhante, não há caminho. Faz-se o caminho ao andar

Constância.


Ao pingar,a gota escava a pedra.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Livros.


Ler um livro é para o leitor conhecer a pessoa e o modo de pensar de alguém que lhe é estranho. É procurar compreendê-lo e, sempre que possível, fazer dele um amigo .

Exposição de Fotografia em Constância .


Palácio de Belém

De 10 a 14 e de 23 a 30 de Novembro o Cine-Teatro Municipal de Constância vai ter patente ao público a Exposição de Fotografia denominada Palácio de Belém.

A mostra será inaugurada na próxima segunda-feira, dia 10 de Novembro, pelas 15 horas, numa cerimónia que será presidida pelo Secretário-Geral da Presidência da República, Dr. Arnaldo Pereira Coutinho.

Com a dinamização da iniciativa a Câmara Municipal de Constância e o Museu da Presidência da República pretendem assinalar um dos mais importantes marcos históricos da História de Portugal do século XX, a Implantação da República a 5 de Outubro de 1910.

A exposição poderá ser visitada no seguinte horário: De 10 a 14 de Novembro das 9 às 12.30H; de 23 a 30 de Novembro: dia 23, das 15.00H às 21.00H; de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H; na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H; sábado das 14.00H às 21.30H; domingo, dia 30, das 14.00H às 19.00H.

Por CMC

A fome do primeiro grito.




Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Jornais.


Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização .

Mar.



o mar sem fissuras

um mar sem vincos, estrias

um mar-amplidão

sem marcas, em movimento



mar a que tudo vai

mar adiante, mar amor

cemitério de tudo, que tudo

suga: mar em que deposito

dúvidas, dádivas, devaneios



mar mar mar em ondas

petrificadas, em versos mar

ginais = vaginas = ostras

ostra(cismo) do mar

mar-útero, mártir(io)



m a r



adentro

adentr

adent

aden

ade

ad

(m) a (r)



quando ao mar tudo vier

o mar será isso tudo

= mar sem margens

mar .

Poema de António Miranda.

Emprender.


Empreender é o pensamento seguido da atitude de fazer acontecer.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Champions.


73' - Golo do Sporting, por Derlei.
Após uma grande jogada de Izmailov, já no interior da área do Shakhtar, o avançado brasileiro dá um pequeno toque na bola antes de rematar de rematar de forma certeira no canto direito de Pyatov.

Força SCP,rumos aos oitavos.

Álcool.


O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino .

Os vendilhões do templo.




Deus disse: faz todo o bem
Neste mundo, e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém
Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.

Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.

E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p'los outros que por nós.

Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.

E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo — o bom doutrinário.

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Literatura.

José Manuel Saraiva.
Sinopse
1514. Na época áurea dos Descobrimentos Portugueses, D. Manuel I toma a decisão de enviar ao Papa Leão X uma grande embaixada, demonstração viva do seu poderio temporal. D. Diogo Pacheco, fidalgo da corte, amigo pessoal do Rei Venturoso, é encarregado pelo monarca de compor e proferir a Oração de Obediência ao Sumo Pontífice, o momento alto da embaixada.
A comitiva parte de Lisboa em cinco embarcações com um tesouro valiosíssimo e animais exóticos trazidos de África e da Índia. Após conturbada viagem o cortejo chega a Roma, onde o Papa preparara uma sumptuosa recepção com a presença das mais altas figuras profanas e religiosas da época.
No meio do fausto da corte portuguesa e da Cúria dos Medici, contrastante com a dor e a miséria do povo sofredor, ascende à figura de símbolo o amor regenerador de D. Diogo pela bela judia, Raquel Aboab, a quem aquele salvara da fogueira e da sanha intolerante do antijudaísmo reinante.
A época de ouro da história do mundo esconde segredos e pecados inconfessáveis das grandes figuras que comandam os destinos do mundo. Entre a fé e a cegueira do poder, a aparência e a essência da condição humana, o sentido de missão e a vaidade só o amor poderá ser redentor. Aos olhos de Deus as personalidades da história não ficarão impunes. E Deus não jogará aos dados.

Oh gente da minha terra.



Marisa.

Eu nunca guardei rebanhos.



Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro.

Garrett.


Há três espécies de mulheres neste mundo:A mulher que se admira,a mulher que se deseja,e a mulher que se ama.
A beleza,o espírito,a graça,os dotes da alma e do corpo geram admiração.
Certas formas,certo ar voluptoso criam o desejo.
O que produz o amor não se sabe;é tudo isto ás vezes;é mais do que isto;não é nada disto.
Não sei o que é;mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar,que se pode desejar sem a amar.

Almeida Garrett, in viagens na minha terra.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bonita.



Pedro Barroso.

Paciência.


Com paciência e perseverança tudo se alcança .

Soneto de Mal Amar.




Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.

A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.

E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afogadas.

Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras mágoa joio e trigo
apenas por ternura levedadas.

Ary dos Santos, in 'O Sangue das Palavras'

domingo, 2 de novembro de 2008

Espelhos.




Os espelhos são usados para ver a cara. A arte, para ver a alma !

Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!




Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

O meu olhar.




O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...



Alberto Caeiro.

sábado, 1 de novembro de 2008

Carta aberta a José Sócrates.


Recebido por mail.


Autor: Magalhães
Senhor Primeiro Ministro:



Venho protestar veementemente através de Vª Exª pelo nome dado ao computador que os vossos serviços resolveram distribuir aos meninos deste país (os que sobrarem do seu negócio com o Hugo Chavez na troca do petróleo, bem entendido).



Eu, Pedro Carvalho de Magalhães, nunca mais poderei usar a minha assinatura sem ser indecentemente gozado pelos meus colegas de trabalho. Sempre assinei PC Magalhães e, desde que Vªs Exªs baptizaram o tal computador, tive que alterar todos os meus documentos. Uma coisa tão simples como perguntar as horas e a resposta que recebo é:



- Atão Magalhães... vai ao Google...



Se vou à máquina de preservativos, há sempre uma boca dum colega:



- Para quê, Magalhães? Não te chega o anti-virus?



Se vou ao dentista, a recepção é sempre a mesma:



- Então o senhor Magalhães vem limpar o teclado...



A minha mulher, Paula Carvalho Magalhães, também sofre pressões indescritíveis no emprego: Ontem uma colega veio da casa de banho com um tampão na mão e gritou:



- Paula.... esqueceste-te da tua pen!



Também o ginecologista não resistiu ao nome e, após a consulta, disse-lhe que tudo estava bem com as entradas USB!



Nem o meu filho, Pedro Carvalho Magalhães, escapa ao gozo que o nome veio provocar. A Rita, a mocinha com quem andava há mais de 6 meses, acabou tudo com este argumento:



- Magalhães.... vou à Staples procurar outro que a tua pega é muito pequena!



Quando, devido a tudo isto, apanhei uma tremenda depressão que me impediu de trabalhar, fui ao psiquiatra. Ele olhou para o meu nome e disse:



- Pois é, senhor PC Magalhães. Aconselho-o a passar pelo suporte técnico da Staples... podem ser problemas de memória RAM!



Neste momento a minha mulher quer desinstalar-se e procurar alguém que tenha um nome 'decente'.



Senhor Primeiro Ministro... porque diabo não puseram Sócrates a esse maldito computador? Queria que o senhor visse o que custa!



Atenciosamente, assina



Paulo Carvalho M. (e não me perguntem o que é o M!)

“Não há espírito de equipa entre municípios do Médio Tejo”


O Mirante - diário online - Política - “Não há espírito de equipa entre municípios do Médio Tejo”

Fernando Pessoa.




Navegue, descubra tesouros, mas não os
tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não
queira trazê-la para a terra. Curta o sol, se
deixe acariciar por ele, mas lembre-se
que o seu calor é para todos.

Sonhe com as estrelas, apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa
correr por toda parte, ele tem pressa
de chegar sabe-se lá onde.

Não apare a chuva, ela quer
cair e molhar muitos rostos,
não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.

O sorriso! Esse você deve segurar,
não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro
de um porta jóias, tranque, perca a
chave! Quem você ama é a maior jóia
que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano
muda, se o século vira e se o milênio
é outro, se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver,
não se chega à parte
alguma sem ela.

Abra todas as janelas que
encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não
deixe ele viver sozinho.

Alimente sua alma com amor,
cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.

Procure, sempre procure o fim
de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem
esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas
não permita que eles te consumam.

Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia
dessa agonia se conseguir tirá-lo também.

Procure os seus caminhos, mas
não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não
o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.

Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
"Circunda-te de rosas, ama,
bebe e cala.O mais é nada".

Aromas e Sabores da Natureza .



15 e 16 de Novembro no Parque Ambiental de Santa Margarida À Descoberta de Aromas e Sabores da Natureza assim se intitula a actividade que vai decorrer no Parque Ambiental de Santa Margarida, concelho de Constância, nos próximos dias 15 e 16 de Novembro.

À Descoberta de Aromas e Sabores da Natureza, um evento que decorrerá entre as 14.30H e as 19.00H, vai possibilitar a todos os participantes provas de chá, de mel, de licores e de compotas.

Promover géneros de produção artesanal e doméstica e contribuir para a salvaguarda do património natural e cultural possibilitando uma relação positiva entre o Homem e a Natureza são os principais objectivos da iniciativa. Os temas a abordar estão relacionados com as plantas aromáticas e medicinais, com os frutos silvestres, com o mel e com a agricultura biológica.

À Descoberta de Aromas e Sabores da Natureza é uma actividade científica, mas com um carácter popular, aberta a todas as faixas etárias da população.

Assim, todos os interessados deverão contactar o Parque Ambiental de Santa Margarida, através do telefone 249 736 929 ou do e-mail parqueambiental@cm-constancia.pt

Por CMC

"Dia dos Bolinhos".




Celebrar o Dia de Todos os Santos (1 de Novembro.)

Na minha terra (Constância)há muitos anos, no dia de Todos os Santos, de manhã bem cedinho, as crianças saíam à rua em pequenos grupos para pedir os bolinhos.

Passeava-mos assim por toda a povoação e ao fim da manhã voltavam-mos com os sacos de pano cheios de romãs, maçãs, doces, bolachas, rebuçados, chocolates, castanhas, nozes e, às vezes, até dinheiro!

Há povoações em que se chama a este dia, O dia do "Pão por Deus"