Seguidores

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Alma!


A alma, ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há seres cuja alma é uma contínua exalação: arrastam-na como um cometa ao oiro esparralhado da cauda - imensa, dorida, frenética. Há-os cuja alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus .


(Raul Brandão )

Delírio.



Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…


Olavo Bilac.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Jardins proibidos.



Paulo Gonzo.

Beijo.


Beijar é como beber água salgada; quanto mais se bebe mais a sede aumenta .

Satânia




Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe...- e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril!- prossegue,
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

E aos mornos beijos, às carícias ternas,
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...

Olavo Bilac.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Lugares e Estados de Alma.



A influência exercida sobre a nossa alma, pelos diferentes lugares, é uma coisa digna de observação. Se a melancolia nos conquista infalivelmente quando estamos à beira das águas, uma outra lei da nossa natureza impressionante faz com que, nas montanhas, os nossos sentimentos se purifiquem: ali a paixão ganha em profundidade o que parece perder em vivacidade.

Honoré de Balzac, in 'A Mulher de Trinta Anos'

Viajar.


"Uma longa viagem começa com um único passo".

Sofro de não te Ver .




Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?

Saúl Dias, in "Sangue (Inéditos)"

sábado, 10 de janeiro de 2009

Hotel Califórnia.




Eagles.

Segredos.


Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido .

Sugar e ser sugado pelo amor


Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

Carlos Dummond de Andrade

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

2009 - Ano Internacional da Astronomia





Quase todos os dias do calendário são dias de qualquer coisa, geralmente coisas que são consideradas boas: do não fumador, da árvore, da água, do Sol, do campo, do clima, do comércio justo, do sobreiro e da cortiça, do guarda florestal, etc. A maior parte deles é apadrinhada pela UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) e muitos são considerados como iniciativas daquele organismo que estabelece os dias internacionais e os dias mundiais. Em todos os casos, o objectivo é a promoção de iniciativas que motivem os cidadãos a reflectir sobre o tema proposto, esperando-se que, com o decorrer dos anos, se melhorem as consciências e os contributos para a melhoria da qualidade de vida dos povos em geral.



Em 2009 completam-se 400 anos sobre as primeiras observações do céu – através de telescópios – realizadas pelo sábio italiano Galileu Galilei. Por isso, e para comemorar o facto, de que resultaram efeitos extraordinários na evolução do conhecimento do Universo e das ciências em geral, o governo italiano solicitou à UNESCO – em 2004 – que proclamasse o ano de 2009 como Ano Internacional da Astronomia. Em Dezembro de 2007 aquela agência das Nações Unidas adoptou a resolução proposta, considerando que “…as observações astronómicas têm implicações profundas no desenvolvimento da ciência, filosofia, religião, cultura e concepção geral do Universo” e ainda que “a UNESCO pode desempenhar um papel crucial na formação da opinião pública, no sentido de incrementar o seu conhecimento da importância da Astronomia para o desenvolvimento social…”.



Em Portugal, ainda em 2007, a Sociedade Portuguesa de Astronomia iniciou a organização das actividades para o 2009 – Ano Internacional da Astronomia, criando uma comissão que concebeu um programa e estabeleceu contactos com entidades, autarquias, editoras, companhias de teatro, orquestras e outras instituições para sugerir o seu envolvimento em iniciativas relacionadas com o tema e com os objectivos.



Na verdade, as actividades já se iniciaram, particularmente em escolas e instituições que apoiam o ensino. Os Museus de Ciência das Universidades de Coimbra e de Lisboa e o Centro Ciência Viva de Constância estão envolvidos na concretização de um projecto designado Descobre o teu Céu e que, para além de incentivar à observação do céu e à pesquisa e criação de histórias associadas às constelações, promove também o intercâmbio com vários países de língua portuguesa. Para além disso, o Centro Ciência Viva de Constância inaugurará, em Março, o maior telescópio público a funcionar em Portugal, o que facilitará as condições de acolhimento, em Julho, das Olimpíadas de Astronomia, evento que juntará participantes de todo o país em provas teóricas e práticas de Astronomia.



Naturalmente, da movimentação cultural que o Ano Internacional da Astronomia provocará em todo o mundo são esperados inúmeros actos e reflexões sobre a presença e importância da Astronomia nas culturas dos povos, ao longo dos séculos, em diversas regiões da Terra.



Mercê de apoio mecenático da Fundação EDP, o Centro Ciência Viva de Constância vai ser equipado com o maior telescópio público a funcionar em Portugal. A inauguração vai ocorrer a 20 de Março – data do 5º aniversário do CCV e em pleno 2009 – Ano Internacional da Astronomia –, embora a entrada em funcionamento experimental esteja prevista já para o mês de Janeiro.

Este potente telescópio servirá – para além de suporte às normais actividades do CCV – para a concretização de encontros de astrónomos amadores e profissionais do país e de outras nacionalidades, dos quais se destacam as Olimpíadas de Astronomia.



Dadas as suas dimensões, características e modos de controlo, o telescópio agora em fase de aquisição estabelece um meio-termo entre os melhores equipamentos utilizados por amadores e os grandes e sofisticados telescópios que equipam os maiores observatórios mundiais. De facto, as duas características ópticas mais importantes de um telescópio são o diâmetro do espelho e a sua distância focal, dado que a primeira determina a quantidade de luz que, vinda de um objecto, o telescópio pode captar, enquanto a segunda está directamente relacionada com o número de vezes que se pode aumentar a imagem, o que equivale a vermos o objecto celeste como se estivéssemos mais perto dele, cem, duzentas ou quinhentas vezes. No caso presente, o diâmetro do espelho ultrapassa meio metro e a sua curvatura é – de todos os tipos actualmente utilizados – a que produz imagens mais nítidas, as quais se formam a cerca de três metros e meio do espelho principal. Como tal distância focal implicaria uma estrutura física de grandes dimensões, a qual só poderia ser abrigada por um cúpula de diâmetro elevado, escolheu-se um tipo de telescópio em que um sistema óptico complexo comprime a distância focal de 3,5 metros para apenas 1,2 metros.



Outro aspecto determinante da qualidade de um telescópio é a estrutura (também designada montagem) onde assenta todo o sistema óptico, nomeadamente no que respeita à sua estabilidade e à suavidade dos seus movimentos. Por isso se optou por uma das melhores montagens, baseadas em sistemas de rolamentos, rodas dentadas e parafusos sem-fim movimentados por motores passo-a-passo alimentados por osciladores de frequência controlável. Assim, o telescópio pode ser apontado para qualquer região do céu e, compensando o movimento de rotação da Terra, seguir suavemente o objecto celeste em observação, permitindo a sua visibilidade ou a captura de imagens durante o tempo necessário.



O sistema electrónico de controlo do telescópio pode ser operado directamente pelo observador ou através de um computador, podendo as imagens dos objectos celestes ser observadas na ocular, num ecrã ou mesmo ser projectadas.



Naturalmente, à satisfação de possuir um moderno equipamento, o Centro Ciência Viva de Constância junta a responsabilidade assumida no protocolo estabelecido com a Fundação EDP de “contribuir para a cultura e conhecimento científico dos cidadãos, em particular dos jovens estudantes”, desenvolvendo acções nas instalações próprias e em outros lugares em que tal se revele importante e realizável, nomeadamente no Museu de Electricidade, em Lisboa. Para além da concessão do equipamento, a Fundação EDP garante o acompanhamento das actividades do CCV e a sua divulgação pelos mecanismos próprios.

Por CMC

Ai se sesse.

Escrever.


Uma boa frase é como uma boa anedota: dá brilho a quem a inventa e sobra ainda para quem a repete .

(Vergílio Ferreira.)

Strip-tease Secular !




Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Calar!


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar, do que o silêncio...

Há momentos que...




Há momentos em que do fogo sobe para a noite
há momentos que resulta tão difícil chegarmos a um
sentimento.
Descubro uma figura que já não
sei seguir. Há momentos
eu vejo o que se senta à minha frente o amável corte
de cabelo o severo intento tomado como correcto
rosto onde a plenitude era possível. Rosto onde o
passado é a tarde de verão a pequena cidade onde o
sol pode dizer-se cai no campo rosto de passados ou
uma tarde de verão para ter tempo.

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"

Obstáculos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sinto




Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

Preguiça.


O preguiçoso é com um relógio sem corda.