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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Português moderno.





Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!

As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'.

Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.

O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';

Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'

Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';

As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.

Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'

Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação', os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.


Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)

As putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.

E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.

Estamos lixados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.

(Recebi por email.)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Os Livros Estão Sempre Sós .




Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.

Ana Hatherly, in 'Tisanas'

Simpatia.




Olhas-me tu
Constantemente:
D'ahi concluo
Que essa alma sente!...
Que ama, não zomba,
Como é vulgar;
Que é uma pomba
Que busca o par!...

Pois ouve; eu gemo
De te não vêr!
E em vendo, tremo
Mas de prazer!...
Foge-me a vista...
Falta-me o ar...
Vê quanto dista
D'aqui a amar!

João de Deus, in 'Ramo de Flores'

Almas.


O amor é a paixão das grandes almas e faz-lhes merecer a glória quando não dá volta ao juízo ...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

É Preciso Aprender a Amar.



Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

Eu Sou do Tamanho do que Vejo .




Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Sombras.


Nós que vivemos aqui, não somos mais do que fantasmas ou ligeiras sombras !

domingo, 14 de junho de 2009

Flowers,Flowers,Flowers.

Retrato de Mulher Triste




Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

Murmurios!

sábado, 13 de junho de 2009

Agora nunca é tarde.



Pedro Barroso.

Esta é a Forma Fêmea .




Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.

Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.

Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.

A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Gargalhadas.


Uma boa gargalhada é o melhor pesticida que existe .

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Literatura.


Sinopse:
Em Junho de 1941 a Dinamarca encontra-se sob a ocupação de Hitler, enquanto a Grã-Bretanha é a única potência europeia em condições de fazer frente ao avanço dos nazis. Mas os aviões que partem em missões de bombardeamento são sistematicamente abatidos pelos esquadrões germânicos, como se de algum modo estes conhecessem os planos de ataque da RAF. Uma agente do MI6 é destacada para investigar o que está a beneficiar os alemães, numa missão secreta à Dinamarca... Ao mesmo tempo, na pequena ilha de Sande, o jovem Harald, encontra numa base secreta dos alemães algo cuja descoberta pode ser vital para mudar o curso dos acontecimentos... Um thriller empolgante e complexo, baseado num caso verídico, pela mão do grande mestre da arte de contar que é o mundialmente famoso Ken Follett.

Entusiasmo.


Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma !

Infância.


A infância é como a água que desce da bica, e nunca mais sobe .

Hora Mística .




Noite caindo ... Céu de fogo e flores.
Voz de Crepúsculo exalando cores,
O céu vai cheio de Deus e de harmonia.
Silêncio ... Eis-me rezando aos fins do dia.

Névoa de luz criando imagens na água,
Nome das águas esculpindo os céus,
Tarde aos relevos húmidos de frágua,
Boca da noite, eis-me rezando a Deus.

Eis-me entoando, a voz de cinza e ouro,
— Oh, cores na água vindo às mãos em branco! —
Minha ópera de Sol ao último arranco.

E, oh! hora mística em que o olhar abraso,
— Sol expirando aos Pórticos do Ocaso! —
Dobra em meu peito um oceano em coro.

Afonso Duarte, in "Tragédia do Sol-Posto

Santos populares.


Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo Antônio
Que as moças lhe têm amor.









A profundidade dos textos doutrinários de santo Antônio fez com que em 1946 o papa Pio XII o declarasse doutor da igreja. No entanto, o monge franciscano conhecido como santo Antônio de Pádua ou de Lisboa tem sido, ao longo dos séculos, objeto de grande devoção popular.
Sua veneração é muito difundida nos países latinos, principalmente em Portugal e no Brasil. Padroeiro dos pobres e casamenteiro, é invocado também para o encontro de objetos perdidos. Sobre seu túmulo, em Pádua, foi construída a basílica a ele dedicada.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Memórias.


O mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crónicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.

Gabriel García Marquez, in 'Memória das Minhas Putas Tristes'

Um Amor




Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

Nuno Júdice, in "A Partilha dos Mitos"

Pânico !


Há épocas em que a sociedade, tomada de pânico, se desvia do caminho e procura a salvação na ignorância ...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Amor é fogo...




Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

10 de Junho.




No dia 10 de Junho celebramos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Quando nasceu este feriado?
O 10 de Junho nasceu com a República quando Lisboa escolheu para feriado municipal o 10 de Junho, em honra de Camões.
Camões representava o génio da pátria, representava Portugal na sua dimensão mais esplendorosa e mais genial e era este o significado que os republicanos atribuíam ao 10 de Junho.

O 10 de Junho, dia de Camões, começou a ser festejado a nível nacional com o Estado Novo, um regime instituído em Portugal em 1933, sob a direcção de António de Oliveira Salazar.

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é pois um tributo à data do falecimento de Luís Vaz de Camões em 1580, é utilizada para relembrar os feitos passados do povo lusitano E também os milhões de Portugueses que vivem fora do seu país natal.

Procurar!


O maior pensar da criatura humana é comer; desde que o homem nasce, até que morre ,anda a procurar o pão para a boca ...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Os Anos são Degraus .




Os anos são degraus, a Vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la,
pode abri-la.

São vários os degraus; alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais.
Alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.

Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.

Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da Estrada,
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
e mais nada?

Fernanda de Castro, in "Asa do Espaço"

A Evidência



Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.


— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?

— Ele não quer nada — disse o ratinho.

— Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite?

— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?

MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.

(Millôr Fernandes)

Juízo !


Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo ...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Jovens.


A juventude mostra o homem tal como a manhã mostra o dia .

O Caminho da Felicidade.



Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: «Admira-te a ti mesmo e vive na rua». «Alto lá», exclamou o sábio, «pedes demais, basta já que nos admiremos!» E o louco respondeu logo: «Mas como admirar sem cessar se não nos desprezarmos constantemente?»

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

Quase.



O amor nasce velho em qualquer coração;
é fruto tardio
de ancestralidades feridas,
de descompassos hereditários,
do choro antigo das várias gerações,
resultado inebriante
dessa magia de converter lágrimas
numa quase-cachaça.


Todo amor nasce marcado
de lutas recentes, mas findas;
soldado conhecedor de cada canto
do seu campo de batalha,
dos requintes militares,
dos artifícios bélicos
da marcial arte de amar;
discípulo virado em mestre,
professor da triste ciência
de tornar sangue
num quase-veneno.


Todo amor nasce maduro.
Superada a longa seca,
a intempérie,
eis que surge indene
com a esperança perene
de uma vida
que é quase-renúncia.


Todo amor nasce morto,
já vivido, já cantado,
já doído, já amado.


Todo amor nasce duro,
escudo
de ancião experimentado,
que esconde um quase-menino
indefeso.


Todo amor nasce quase;
e se é todo, não o é.

Todo amor nasce pedra
perpétua, e perdura
na solidez de um silêncio
que é quase confissão.

Anderson Piva

domingo, 7 de junho de 2009

Pintura.

(tela de Sara Santareno.)



Onde se diz espiga
leia-se narciso.
Ou leia-se jacinto.
Ou leia-se outra flor.
Que pode ser a mesma.

As flores
são formas
de que a pintura se serve
para disfarçar
a natureza. Por isso
é que
no perfil
duma flor
está também pintado
o seu perfume.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

Idades...


Todas as idades têm os seus frutos, mas é preciso sabê-los colher

Cortejo Quinhentista


Grandioso Cortejo Quinhentista em Constância
mais de 350 figurantes desfilam na vila no próximo dia 10 de Junho No próximo dia 10 de Junho, Constância assiste a um grandioso Cortejo Quinhentista com mais de 350 figurantes, uma iniciativa dinamizada pelo Agrupamento de Escolas de Constância, que integra as XIV Pomonas Camonianas e as comemorações do Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

Assim, a partir das 16.30H, com início na Escola Básica e Secundária Luís de Camões, músicos, estandartes, escudeiros, nobres, a burguesia, o povo e os cavaleiros descem a vila em cortejo até ao monumento a Camões, para aí dinamizarem um Sarau Quinhentista composto por uma Ceia, Danças Renascentistas, Declamões (poesia) e pelo Jantar do Povo.

Para além do Cortejo Quinhentista, o programa das XIV Pomonas Camonianas, que decorrem nos próximos dias 9, 10, 11 e 12 de Junho integra diversas iniciativas: um mercado quinhentista onde são vendidos os frutos e as flores referidos por Camões na sua obra, figurantes trajados ao modo da época; Os Encontros do Cantar Diferente com Pedro Barroso, Francisco Ceia e Luísa Bastos, uma Prova de Orientação Nocturna (dia 9); uma Feira de Antiguidades e Velharias, Inauguração do Arquivo Municipal, Deposição de Coroas de Flores, Teatro Auto da Barca do Inferno pelo Fatias de Cá (dia 10); Animação de Rua pelos alunos da Escola Básica e Secundária Luís de Camões (dia 11); As escolas vão às Pomonas – Actividade Pedagógica (dia 12), várias exposições e muita animação.
Por CMC

sábado, 6 de junho de 2009

Scorpions.

Aparências.


Muitas vezes parece que o diabo bate à nossa porta, mas é simplesmente o limpa-chaminés !!!

Para todos os meu amigos e amigas .




De entre todos, apenas vós
tendes direito a ver-me
fracassar. Onde caio
entre a vossa irónica
doçura implacável, convosco
partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos
sobre o que fica (sempre)
para dar ou dizer.
E de vós me levanto
e vos levo pesando
e ardendo até onde
me ajudais a ser
melhor ou talvez
menos só.

Vítor Matos e Sá, in 'Companhia Violenta'

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A língua girava no céu da boca.


Girava! Eram duas bocas, no céu único.

O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.


Extraído do livro "O amor natural

Quase um Poema de Amor .




Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.

Miguel Torga, in 'Diário V'

Lar.


O lar é onde o coração do homem cria raízes ...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Constância vai ter novo Arquivo Municipal .



No próximo dia 10 de Junho
O Arquivo Municipal de Constância tem a sua abertura ao público marcada para o dia 10 de Junho de 2009, unindo-se à celebração do Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e às Pomonas Camonianas.

Em 2002, o Município de Constância candidatou-se ao PARAM (Programa de Apoio à Rede de Arquivos Municipais), para adaptação de edifício existente, designado por Casa Amarela, para Arquivo Municipal.

No final desse ano, foi assinado o contrato-programa entre o Instituto dos Arquivo Nacionais/ Torre do Tombo e a Câmara Municipal de Constância, sendo a comparticipação da Torre do Tombo de 50 % do valor total da obra de implantação, que no global reflecte um investimento de cerca de 320 000€.

Posteriormente, a Câmara Municipal de Constância, avançou faseadamente com a aquisição de múltiplos equipamentos, nomeadamente, estanteria para os depósitos, instalação de recursos informáticos que potencializem a implementação de um plano de incorporação de fontes externas ao Arquivo, mais concretamente, através da digitalização de fundos documentais privados de relevância para a memória e testemunho do concelho, e apetrechamento da Sala de Consulta e Leitura Pública e Recepção, contando esta última com um sistema de apoio à realização de exposições temporárias, dotando-a de múltiplas valências, o que no total implicou um investimento de cerca de 75 000€., suportados pelo orçamento municipal.

Assim, o tratamento, divulgação e o acesso à documentação são vectores fundamentais para a prossecução dos objectivos estratégicos do Arquivo. A comunicação docu¬mental é efectuada através da Sala de Consulta e Leitura Pública, com acesso à documentação de natureza histórica, através de recursos tecnológicos informáticos, dispondo ainda os utilizadores de uma biblioteca especializada em livre acesso, de apoio à investigação científica e académica, cujos temas centrais versam essencialmente sobre história local e do municipalismo e dois postos de acesso à Internet. A Sala de Consulta e Leitura Pública oferece ainda 8 postos de trabalho individuais e um posto de trabalho capaz de receber grupos de quatro pessoas.

Relativamente ao Arquivo Histórico, este concentra documentação desde o século XIX, pertencente ao fundo da Câmara Municipal e ao fundo da Administração do Concelho, incluindo documentação tão variada como Actas de Vereação e Livro de Actas (desde 1847), Recenseamentos Eleitorais e Militares (desde 1842), Testamentos (desde 1840), entre outras.
Por CMC

Existência.


De meros vazios se constrói o recheio da existência humana !

Era a mulher.


— A mulher nua e bela,
Sem a impostura inútil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela...
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bíblicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo — a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher — a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo...
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nós, homens, o direito à vida!

Pedro Homem de Mello, in "Miserere"

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Abraçar...


"Ao receberem e darem os seus pensamentos, as pessoas comunicam entre si como nos beijos e abraços."

Leitura.


Durante a leitura a nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios .

Literatura.


Friederich Nietzsche, o maior filósofo da Europa, está no limite de um desespero suicida, incapaz de encontrar cura para as insuportáveis enxaquecas que o afligem. Josef Breuer, médico distinto e um dos pais da Psicanálise, aceita tratar o filósofo com uma terapia nova e revolucionária: conversar com Nietzsche e, assim, tornar-se um detective na sua cabeça.

Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios.E no final não é apenas Nietzsche que exorciza os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões sexuais.

Quando Nietzsche Chorou funde realidade e ficção, ambiente e suspense, para desvendar uma história superior sobre amor, redenção e o poder da amizade.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Teus Olhos;




Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

Tentação...


O problema de resistir a uma tentação é que não podemos ter uma segunda oportunidade .

Café ao Luar;




Integradas nas Comemorações do Ano Internacional da Astronomia, que se assinala no corrente ano de 2009, o Centyro Ciência Viva de Constância - Parque de Astronomia, promove sessões de observação da lua e de Saturno, através de telescópios, na primeira semana de Junho, das 21 às 22.30 horas, nas seguintrs locais do Concelho:

Dia 1 de Junho

Montalvo: Casa do Povo
Constância: Café Os Arcos
Vale de Mestre: Central Parque

Dia 2 de Junho

Malpique: Café Progresso
Portela: Sociedade Recreativa POrtelense
Pereira: Fonte da Ti Ana

Dia 4 de Junho

Aldeia: Café Zangarilho
Constância Sul: Café Sobe e Desce
Por CMC

XI Encontros do Cantar Diferente .


Pedro Barroso, Francisco Ceia e Luísa Bastos nos XI Encontros do Cantar Diferente
Constância - 9 de Junho, 22 Horas
No próximo dia 9 de Junho, Pedro Barroso, o grande trovador da música portuguesa, é o anfitrião da iniciativa Encontros do Cantar Diferente, um evento que já vai na sua XI edição e que decorrerá no âmbito das XIV Pomonas Camonianas, uma actividade que terá lugar em Constância, nos próximos dias 9, 10, 11 e 12 de Junho.

O espectáculo terá início às 22 horas, no Anfiteatro dos Rios, e conta este ano com a presença de dois grandes nomes da música portuguesa: Francisco Ceia e Luísa Bastos.

Os Encontros do Cantar Diferente são uma ideia original de Pedro Barroso que, além de músico, autor e compositor, assina também a produção deste espectáculo, que já data de 1997.

Por um dia, o palco do Anfiteatro dos Rios, em Constância, transforma-se numa verdadeira sala de estar, onde, entre músicas e conversas, o anfitrião Pedro Barroso recebe amigos, grandes nomes do panorama musical português. Por este palco já passaram Manuel Freire, José Mário Branco, José Fanha, João Afonso, Vitor Silva, Carlos Mendes, Francisco Fanhais, Fernando Tordo, Samuel, o Maestro Vitorino d’ Almeida, Janita Salomé, Carlos Alberto Moniz, Zeca Medeiros, José Cid, Afonso Dias, Paulo de Carvalho, Francisco Naia, Ricardo Parreira, Fernando Alvim e Paco Bandeira.

Para além dos Encontros do Cantar Diferente, o programa das XIV Pomonas Camonianas integra diversas iniciativas: um mercado quinhentista onde são vendidos os frutos e as flores referidos por Camões na sua obra, figurantes trajados ao modo da época; uma Prova de Orientação Nocturna (dia 9); uma Feira de Antiguidades e Velharias, Inauguração do Arquivo Municipal, Deposição de Coroas de Flores, Sarau Quinhentista, Teatro Auto da Barca do Inferno pelo Fatias de Cá (dia 10); Animação de Rua pelos alunos da Escola Básica e Secundária Luís de Camões (dia 11); várias exposições e muita animação.
Por CMC

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sem palavras...

Criança .




Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste,

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

A propósito do dia mundial da criança...


A palavra ''progresso'' não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes!