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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Poço sem fundo.


Dentro de mim
há um poço sem fundo
onde por vezes me sento
penso
e olho o mundo!
Em dias de sol
raios brilhantes
penetram no seu interior
refletem profundamente
o sentir
o viver
o amor...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Silêncio


O silêncio, o que é o silêncio? perguntei ao mestre. - Uma floresta cheia de ruído

(Casimiro Brito.)

II Beijo Subaquático


II Beijo Subaquático + longo na Piscina Municipal
Dia dos Namorados
Celebrado em Constância Para comemorar o Dia dos Namorados, que se assinalou a 14 de Fevereiro, os Serviços de Desporto da Câmara Municipal de Constância promoveu pelo 2º ano consecutivo a actividade Beijo Subaquático + longo, a qual decorreu no dia 12 de Fevereiro.

Lembramos que um beijo activa até 30 músculos faciais, faz acelerar o batimento cardíaco e se durar três minutos queima até 15 calorias.

Sandra Quintas e Luis Gonçalves Gavazzi foi o casal amado vencedor, com um novo recorde de 1 minuto 18 segundos 25 centésimos, em segundo lugar com 46 segundos 99 centésimas ficaram Mariza Brasil e António Camacho Soares, sendo o terceiro lugar do pódio ocupado por Fernanda Alves e Fernando Rosas com 18 segundos e 87 centésimas. Maria dos Santos Conceição e Eduardo Conceição, foram o quarto casal participante, conseguindo ficar 12 segundos e 01 centésimas debaixo de água.

Os casais participantes no II Beijo Subaquático + longo receberam vários prémios aliciantes, nomeadamente: 1º Prémio – No dia 13: 2 Bilhetes de Cinema e Estadia de uma noite para duas pessoas na região. No dia 14: Passeio de Barco no Tejo e Almoço Romântico para duas pessoas. 2º Prémio – No dia 13: 2 Bilhetes de Cinema. No dia 14: Passeio de Barco no Tejo e Almoço Romântico para duas pessoas. 3º Prémio – No dia 13: 2 Bilhetes de Cinema. No dia 14: Passeio de Barco.
Por CMC

A Forma Justa




Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

vida


Que todos os que se aproximarem de mim, tenham vontade de cantar, esquecendo as amarguras da vida !

Amar Intensamente .




De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

Mar profundo!


Inércia,sono de chumbo
sono pesado
sono profundo
letargia,indiferença
hipnose,sonolência...
Mergulho silenciosamente
no meu inconsciente
procuro a diferença
entre um mundo e outro.
Suspiro profundo
fecho os olhos
habito as profundezas do mar...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Livro/vida.


Livro, quando te fecho, abro a vida

Pablo Neruda.)

Deve Ser Tão Bom Ser Alegre .




Deve ser tão bom ser alegre, ser feliz, não é verdade? Ter a alma quente como o estofo de um ninho, ser pequenino em tudo até nos desejos, que bom deve ser, não deve? Os corações pequeninos, os modestos, são sempre tão bondosos, tão quentes! O meu anda à solta, tão grande, tão ambicioso, tem sempre frio, está sempre só... Ninguém sabe andar com ele! E nota, minha Júlia, que eu não sou como muitas mulheres que querem ser tristes, que só se encontram bem na solidão, que procuram a paz, o silêncio e a indiferença de todos; que cultivam no peito com extremos de amor todas as saudades, que acariciam e albergam todas as dores! Eu não, eu expulso, desesperada, todas as lágrimas, eu procuro aquecer-me a todos os risos, comprimo sempre o coração para o fazer pequenino, estendo os ouvidos a todas as canções, olho ao longe, de olhos muito abertos, todos os céus.
E é sempre em vão! E os risos calam-se quando eu quero ouvir, e os meus pobres olhos tristes cegam-se a todas as claridades. Mas agito sempre os guizos, faço sempre barulho, um barulho infernal cheio de vida, de alegria, imito todos os risos e cá dentro é noite... e cumprimentam-me todos pelo meu génio alegre e «divertido»... Tem graça, pois não tem, minha Júlia? Se soubessem como sou hipócrita! Que horror todos teriam de mim! Assim sou... muito sincera, de uma franqueza que chega muitas vezes à brutalidade (dizem os que me conhecem muito bem) e sou... extremamente alegre, não há tristezas que me cheguem nem venturas que me fujam!

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Pontes...


Ponte que me ligas á vida
transpôes descaminhos
interligas os sonhos
entre o espaço branco
das páginas de um livro...
Direcções opostas
desconformes
distante entre a realidade
e o sonho
tão perto da vida
e da transição para a outra margem...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Não Sou nada Mulher ...




Eu não sou em muitas coisas, nada mulher; pouco de feminino tenho em quase todas as distracções da minha vida. Todas as ninharias pueris em que as mulheres se comprazem, toda a fina gentileza duns trabalhos em seda e oiro, as rendas, os bordados, a pintura, tudo isso que eu admiro e adoro em todas as mãos de mulher, não se dão bem nas minhas, apenas talhadas para folhear livros que são verdadeiramente os meus mais queridos amigos e os meus inseparáveis companheiros. Zango-me comigo própria, tento fazer qualquer coisa, mas a leveza aérea das sedas, a fluidez ideal das rendas, fazem tremer-me as mãos que não tremem nunca ao folhear os livros que mais fatigam toda a gente, irritam-me e maçam-me a um ponto que tenho de atirar com aquilo tudo para outro regaço mais de mulher, mais cariciante, mais doce e com todas as carícias e doçuras que o meu não teve, não tem e não terá nunca. Que desconsolo ser assim, minha Júlia! Ter apenas paciência para penetrar os arcanos duma alma que se fecha nas páginas dum livro; ter apenas gosto em chorar com António Nobre, pensar com Vítor Hugo, troçar com Fialho de Almeida e rir suavemente, deliciosamente, com uma pontinha de ironia onde às vezes há lágrimas, com Júlio Dantas! Eu não devia ser assim, não é verdade? Mas sou... Tive os melhores professores de tudo na capital do Alentejo (que se são melhores não são bons), de bordados, de pintura, de música, de canto, e afinal sou uma eterna curiosa de livros e alfarrábios, e mais nada. E pensando bem, minha querida, não há tudo isso nos meus livros? Música e canto, bordados e rendas... que delícia e que finura em certos versos... que encanto e que magia em certas frases!... Palpo esses bordados, essa macieza de cetins, beijo esses pontos delicados, essa espuma de rendas, essas brancuras ténues, esses negros chorosos e trágicos, e acho-os melhores, convenço-me que valem mais que os mais valiosos trabalhos em que mãos de princesas descansassem. E muitas vezes surpreendo-me a sorrir com um pouco de ironia e de piedade por todas essas belas coisas, coisas de mulheres tão finas e tão leves como a leviandade...

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Farol.


Farol
Facho de fogo que me ilumina
luz intelectual que me guia...
Anel brilhante
fantasia!
Ostentação
falsa aparência
verossímil...
Contradizendo rumos
recordação vaga
reminiscência...

Mais ou menos.


A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

TUDO BEM!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Chico Xavier

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Tudo tem os seus custos...

Os Livros Tristes.




É diferente a impressão que nos produzem os livros tristes; a ti entristecem-te e a mim alegram-me. Para os verdadei¬ros desgraçados, é sempre motivo de felicidade a desgraça dos outros; só os livros alegres e cheios de vida e de sol é que me entristecem, como tudo que é feliz. Eu odeio os felizes, sabes? Odeio-os do fundo da minha alma, tenho por eles o desprezo e o horror que se tem por um réptil que dorme sossegadamente. Eu não sou feliz mas nem ao menos te sei dizer porquê. Nasci num berço de rendas rodeada de afectos, cresci despreocupada e feliz, rindo de tudo, contente da vida que não conhecia, e de repente, amiga, no alvorecer dos meus 16 anos, compreendi muita coisa que até ali não tinha compreendido e parece-me que desde esse instante cá dentro se fez noite. Fizeram-se ruínas todas as minhas ilusões, e, como todos os corações verdadeiramente sinceros e meigos, despedaçou-se o meu para sempre. Podiam hoje sentar-me num trono, canonizar-me, dar-me tudo quanto na vida representa para todos a felicidade, que eu não me sentiria mais feliz do que sou hoje. Falta-me o meu castelo cheio de sol entrelaçado de madressilvas em flor; falta-me tudo que eu tinha dantes e que eu nem sei dizer-te o que era... É esta a história da minha tristeza. História banal como quase toda a história dos tristes. Mesmo que a quisessem pôr em romance, não dava para duas páginas; para folhetim também não serve porque lhe falta o enredo, serve só para te maçar, minha querida, não é verdade? Tu ainda tens medo dos livros que te fazem chorar... Pois, olha, dizem que a felicidade dos tristes são as lágrimas; eu creio-o bem...

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Dá-me as Tuas Mãos .



As mãos foram feitas
para trazer o futuro,
encurtar a tristeza, encher
o que fica das mãos
de ontem - intervalos
(duros, fiéis) das palavras,
vocação urgente
da ternura, pensamento
entreaberto até
aos dedos longos
pelas coisas fora
pelos anos dentro.

Vítor Matos e Sá, in 'Companhia Violenta'

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Bom fim de semana para todo o mundo.



Acho que sábado é a rosa da semana.

Clarice Lispector

A Liberdade de Coração é uma Mentira .




Pois então não vês que é um sonho, uma mentira atroz a liberdade do coração? Não o sentes tu bater, enraivecido e louco, pelo cativeiro? E podes tu, por acaso, soltá-lo? Que irrisão! E se o soltasses, se lhe abrisses de par em par as portas do teu peito, que faria ele em liberdade, pobre leãozito cego?!... Como ele lastimaria o fofo e quente ninho do seu tristíssimo cativeiro! Um coração perdido pela lama do mundo, pelo pó dos atalhos... Que desgraçado coração seria esse! É bem melhor tê-lo como eu digo: «Na paz da tua cela a soluçar...».

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

O meu eu.


O meu eu
e o teu
o eu de cada um
transparentes
transformam-se
mutuam-se
numa metamorfose
sublime existência
na natureza ideal de um ser
substância
essência...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sou Insaciável




Eu sou insaciável; mal um desejo surge, outro desponta, e em mim há sempre latente a febre do sonho e do desejo, e quando possuo alguma coisa de infinitamente consolador, como é a sua amizade, desejo mais, mais ainda, mais sempre! Conhece-se em mim o afecto, o amor, a ternura por um egoísmo implacável que quer tornar muito meus, e só meus, os corações que se me dedicam um pouco. Dá isto muitas vezes o resultado de me suceder o mesmo que sucedeu ao cão que largou a presa pela sombra, pois querendo muito, muito perdeu. Pareço-me um pouco com esse cão pateta, não acha?

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Gozo.


Gozo
uma graça
um motivo
um sorriso.
Prazer extremo
que provém duma posse
que contenta e satisfaz
uso fruto de um amor
que se desfruta com paixão
com o prazer dos sentidos
com satisfação.
Desejo irrepremível
apetite voraz
atracção misteriosa
alquimia irrefriável
algures dentro de mim...

Origem do carnaval.


Todo mundo pensa que o Carnaval é uma festa típica do Brasil. Mas
toda essa farra existe desde a Antiguidade e vem de muito longe.
O
Carnaval originário tem início nos cultos agrários da Grécia, de 605 a
527 a.C. Com o surgimento da agricultura, os homens passaram a
comemorar a fertilidade e produtividade do solo.
O
Carnaval Pagão começa quando Pisistráto oficializa o culto a Dioniso na
Grécia, no século VII a.C. e, termina, quando a Igreja Católica adota a
festa em 590 d.C.
O primeiro foco de concentração
carnavalesca se localizava no Egito. A festa era nada mais que dança e
cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces
simbolizando a inexistência de classes sociais.
Depois, a
tradição se espalhou por Grécia e Roma, entre o século VII a.C. e VI
d.C. A separação da sociedade em classes fazia com que houvesse a
necessidade de válvulas de escape. É nessa época que sexo e bebidas se
fazem presentes na festa.
Em seguida, o Carnaval chega em
Veneza para, então, se espalhar pelo mundo. Diz-se que foi lá que a
festa tomou as características atuais: máscaras, fantasias, carros
alegóricos, desfiles...
O Carnaval Cristão passa a
existir quando a Igreja Católica oficializa a festa, em 590 d.C. Antes,
a instituição condenava a festa por seu caráter “pecaminoso”. No
entanto, as autoridades eclesiásticas da época se viram num beco sem
saída. Não era mais possível proibir o Carnaval. Foi então que houve a
imposição de cerimônias oficiais sérias para conter a libertinagem. Mas
esse tipo de festa batia de frente com a principal característica do
Carnaval: o riso, a brincadeira...
É só em 1545, no
Concílio de Trento, que o Carnaval é reconhecido como uma manifestação
popular de rua. Em 1582, o Papa Gregório XIII transforma o Calendário
Juliano em Gregoriano e estabelece as datas do Carnaval. O motivo da
mobilidade da data é não coincidir com a Páscoa Católica, que não pode
ter data fixa para não coincidir com a Páscoa dos judeus.
O
cálculo é um pouco complexo. Determina-se o equinócio da primavera, que
ocorre entra os dias 21 e 22 de março no hemisfério norte. Observando a
lua nova que antecede o equinócio, o primeiro domingo após o 14º dia de
lua nova é o domingo de Páscoa. Como o primeiro dia da lua nova, antes
de 21 de março, é entre 08 de março e 05 de abril, a Páscoa só pode ser
entre 22 de março e 25 de abril. O domingo de carnaval é sempre no 7º
domingo que antecede ao domingo de Páscoa.
O
Carnaval brasileiro surge em 1723, com a chegada de portugueses das
Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. A principal diversão dos foliões
era jogar água nos outros. O primeiro registro de baile é de 1840.
Em
1855 surgiram os primeiros grandes clubes carnavalescos, precursores
das atuais escolas de samba. No início século XX, já havia diversos
cordões e blocos, que desfilavam pela cidade durante o Carnaval. A
primeira escola de samba foi fundada em 1928 no bairro do Estácio e se
chamava Deixa Falar. A partir de então, outras foram surgindo até
chegarmos à grande festa que vemos hoje.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carnaval


Actividades alusivas ao Carnaval
no Município de Constância
Mascarados no Ginásio


O Ginásio Municipal de Constância e o Museu dos Rios e das Artes Marítimas são os dois serviços do município que vão dinamizar iniciativas comemorativas do Carnaval.

Na segunda-feira, 15 de Fevereiro, das 16h00 às 21h30, o Ginásio Municipal abre as portas aos mascarados, oferecendo-lhes um treino gratuito, o qual deverá ser marcado previamente. Para participar na actividade basta dar largas à imaginação, vestir o fato de carnaval e aparecer no ginásio. Só usufruem da iniciativa os participantes que estiverem mascarados.

O Entrudo no Museu dos Rios



Tendo como principal objectivo relembrar as tradições do Entrudo, preservando e valorizando esta época festiva, pagã e milenar, o Museu dos Rios e das Artes Marítimas convida os interessados na iniciativa, a aparecerem no Museu - mascarados como era tradição - a fim de participarem em algumas partidas e brincadeiras, pois como diz o povo no Carnaval ninguém leva a mal.

Recorde-se que nos tempos idos o Entrudo era uma data muito esperada e vivida de forma muito simples. Procuravam-se roupas e objectos velhos, algo que ocultasse o rosto e de seguida brincava-se e convivia-se de forma saudável e divertida. Estes usos e costumes são um património cultural já quase esquecido, de que apenas os mais velhos ainda se lembram. As tradições carnavalescas de hoje são muito diferentes das de antigamente, que eram mais espontâneas, mais genuínas e tinham uma raiz popular muito mais vincada.

Aberta ao público em geral, esta actividade vai decorrer no Jardim do Museu dos Rios e das Artes Marítimas, das 14h00 às 17h30.
Por CMC

O Meu Péssimo Carácter.




Mandar-lhe-ei o meu retrato. Quer? Mas até lá, e para prevenir a hipótese do meu rosto a enganar, vou descrever-lhe desde já o meu péssimo carácter: sou triste, imensamente triste, duma tristeza amarga e doentia que a mim própria me faz rir às vezes. É só disto que eu rio, e aqui tem já V. Ex.a no meu carácter uma sombra negra, enorme, medonha: a hipocrisia!... Porque eu pareço alegre e toda a gente gaba a minha... alegria! Estou já a vê-la, num gestozinho de enfado, amarrotar, irritada, a minha carta, com um vago sentimento de arrependimento por querer conhecer uma criatura assim tão mal dotada. Mas ainda este é o primeiro defeito; o segun­do, e para o mundo virtuoso e prático é simplesmente horrível, é o sonhar, sonhar muito, olhar muito além, para longe de todos os que cantam, os que falam, os que riem!... Tenho dias em que todas as pessoas me dão a impressão de pequeni­nas figuras de papel sem expressão, sem vida. Estou falando a V. Ex.a com o coração nas mãos, com a franqueza com que não falo a ninguém. Até estou admirada de mim própria; mas não admira talvez este feitio pouco comunicativo, em vista de não ter conhecido ninguém culto e sincero e amigo a quem eu pudesse ter falado assim um dia. Mãe já a não tenho há muito; tenho 22 anos e não me recordo nem da cor dos seus cabelos; irmãs nunca tive, e amigas tenho as que toda a gente tem. Amigas... conhecidas, por outra, tenho muitas, princi­palmente nesse meio de luxo e opulência em que a principal felicidade consiste num chapéu ou num vestido da moda. Eu não as entendo, nem elas a mim me entendem, e eu não sei se serão elas ou eu a razão, neste mundo em que cada um vive para si. Eu sou refractária a todas as altas questões de elegân­cia, e se um vestido ou um chapéu me encanta é apenas pela porção de arte que eles podem conter, e nada mais. Já vê V. Ex.a que, se esta maneira de sentir não é bem um defeito, é ao menos uma feição desagradável do meu carácter.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Hoje há circo


Hoje há circo
o palhaço sou eu
nada de tristezas
quero toda a gente sorridente
vamos rir e gargalhar
quero todo o mundo contente...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ideal...

O Sucesso para um Grande Amor.




Estou contente porque a minha querida não tem ainda o afecto exclusivo e único que há-de sentir um dia por um homem, apesar de todas as suas teorias que há-de ver voar, voar para tão longe ainda!... E no entanto, elas são tão verdadeiras! Ainda assim, minha querida Júlia, uma das coisas melhores da nossa vida de tão prosaico século, é o amor, o grande e discutido amor, o nosso encanto e o nosso mistério; as nossas pétalas de rosa e a nossa coroa de espinhos. O amor único, doce e sentimental da nossa alma de portugueses, o amor de que fala Júlio Dantas, «uma ternura casta, uma ternura sã» de que «o peito que o sente é um sacrário estrela­do», como diz Junqueiro; o amor que é a razão única da vida que se vive e da alma que se tem; a paixão delicada que dá beijos ao luar e alma a tudo, desde o olhar ao sorriso, — é ainda uma coisa nobre, bela e digna! Digna de si, do seu sentir, do seu grande coração, ao mesmo tempo violento e calmo. Esse amor que «em sendo triste, canta, e em sendo alegre, chora», esse amor há-de senti-lo um dia, e embora morto, perfumar-lhe-á a alma até à morte, num perfume de saudade que jamais o tempo levará!
No entanto, o casamento é brutal, como a posse é sempre brutal, sempre! O melhor beijo, o beijo mais doce, aquele que se não esquece nunca, é aquele que nunca se deu, disse-o um dia um poeta, e eu creio. Só para as mulheres, as tais mulheres mais animais que espirituais, é que o casamento não é a desilusão de sempre, — mas então nós? Se ganhamos um grande amigo, o que nós sofremos muitas vezes! A revolta de tudo quanto há de delicado em nós, e que se ofende e se indigna com as afrontas que são afinal uma grande lei da Natureza! E não há homem, por superior que seja, que com­preenda esta revolta e que a desculpe! Em tudo eu penso exactamente o mesmo que a minha querida Júlia; não há nada, tanto para os homens como para a mulher, que valha a liberdade tanto alma como de pensa­mento. É o casamento um grilhão de flores e risos? De acor­do, mas é sempre um grilhão. Ria, pois, e cante com a sua bela alegria, ame doidamente alguém, mas nunca abdique nem uma só das suas graças, nem uma só das suas ideias que lhe fazem vincar a fronte às vezes com uma pequenina ruga de capricho e insolência, que fica tão bem às mulheres boni­tas; não ajoelhe nunca, porque está nisso o nosso grande mal, o nosso profundíssimo erro; nós invertemos muitas vezes os papéis, e em proveito deles, e depois as consequências são muitas vezes as paixões que devastam uma vida inteira por criaturas que se dignam dar, por último, como humilde mortalha, um olhar de compaixão! O melhor de todos os homens não vale um fanatismo, creia-me, e embora a nossa alma, com essa ânsia de amor, de ternura que canta sempre em nós, se lhes dedique completamente, que eles o não sai­bam nunca, que não suspeitem sequer!... Abdicando um grau da nossa realeza, teremos de descer sempre, sempre, até ao fim. Não é verdade isto?

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Meu amor meu amor.



Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

José Carlos Ary dos Santos

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sorrisos.


Quando encontrares alguém cansado de mais para te dar um sorriso,dá-lhe o teu.

A Única Coisa que Desculpa o Casamento é o Amor...




Na carta que lhe escrevi dava-lhe, como me tinha pedido, a minha opinião sobre o casamento. É a seguinte: acho o casamento uma coisa revoltante! E isto por uma única razão mas que para mim é tudo, para mim e para aquelas mulheres que não são apenas fêmeas, para todas as delicadas, para todas as que têm pudor, espírito e consciência. Essa razão é a posse, essa suprema e grande lei da Natureza que, no entanto, revolta tudo quanto eu tenho de delicado e bom no íntimo da minha alma. Ganha-se um amigo muitas vezes, é certo; um amigo que às vezes é o nosso supremo amparo, mas em compensação quantas revoltas, quantas mágoas, quantas desilusões! Quan¬tas!... A minha querida faz bem, faz muito bem em não se querer sujeitar ao mercado, à venda. Eu casei e casei por amor. É a única coisa que desculpa, no meu entender, o casamento, porque do contrário, quando nele apenas entram o interesse e a ambição, revolta-me e indigna-me.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1916)"

Fui por aí...




Quis voar,voei
libertei meus pensamentos
quis sonhar,sonhei
extravasei os meus sentimentos
Fui por aí...
Fantasiei
alimentei minhas ilusões
construi castelos no ar
vivi emoções
idealizei
amei como se ama o amor
desejei ardentemente
amei sem dor...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ser feliz é:


Ser feliz é encontrar a nossa alegria na alegria dos outros.

Procuro-te .



Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas"

Dizer Não.




Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A beleza...


A beleza é a vida quando nos mostra a sua melhor cara .

A Solidão é Sempre Fundamento da Liberdade .




A solidão é sempre fundamento
da liberdade. Mas também do espaço
por onde se desenvolve o alargar do tempo
à volta da atenção estrita do acto.
Húmus, e alma, é a solidão. E vento,
quando da imóvel solenidade clama
o mudo susto do grito, ainda suspenso
do nome que vai ser sua prisão pensada.
A menos que esse nome seja estremecimento
— fruto de solidão compenetrada
que, por dentro da sombra, nomeia o movimento
de cada corpo entrando por sua luz sagrada.

Fernando Echevarría.

Pássaro encantado.



Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar.
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor.
Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você....
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira.
Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia.
E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
Tenho que ir, ele dizia.
Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar.....
Eu também terei saudades, dizia o pássaro. Eu também vou chorar.
Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios...
E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas.
Se eu não for, não haverá saudades.
Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite.
Imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre.
Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz.
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar.
Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias....
Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar.
Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente.
Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste.
E veio o silêncio, deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...
Até que não mais agüentou.
Abriu a porta da gaiola.
Pode ir, pássaro, volte quando quiser...
Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente.
Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito.
Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar...
E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia.
Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos...
Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje...
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro.
Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar.
AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.
Quem sabe ele voltará amanhã....
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

Rubens Alves

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sound Of Silence

O Desbunde.







Tinha, como direi, eu, que sou uma senhora a seu modo pacata e até pudica, uma, ou melhor, um derrière esplendido. Não é preciso ser homem pra essas avaliações. Firme em definidos e perfeitos contornos, rebelde ao disfarce das saias e anáguas daquele tempo, inscrevia-se na cara de sua dona, que, movendo os olhos como as ancas, subia a rua em falsa pudicicia, apregoando-se: tenho. Os homens ficavam loucos. Eu era mocinha boba e escutei no armazém do Calixto ele dizer pro Teodoro, meu futuro marido, naquele tempo preocupado em fazer bodoques de goma: eh, ferro! O Vicente não vai dar conta daquela ali, não. É preciso muita saúde. Calixto falava com o Teodoro do que eu suspeitava serem os tesouros da Oldalisa e ela nem aí, toda toda, sobe e desce rua. Exatamente o que era me escapava, só podia ser coisa de homem e mulher. Felicitei-me por estar viva e participar de segredos tão excitantes. O Vicente era muito magrinho, não jogava bola, não nadava, "não salientava em nada", o Vicente


Cisquim. Pois foi dele que a Raimunda — como o Calixto chamou ela naquele dia — gostou. Casaram e tiveram pencas de filhos. O Calixto ficou chupando o dedo. Ser bonitão e dono de armazém não contou ponto pra ele. Pois é, falou o Teodoro, hoje, assim que botou o pé em casa: O que é a tecnologia, hein? Tecnologia? É o avanço da medicina. Teodoro falava era do avanço do tempo. Tou aqui matutando, disse ele, porque a Oldalisa escolheu o Vicente, não tem base. Tô vendo aquela dona pegando as compras no caixa e... Plim! Era ela, a velha senhora. A Oldalisa do Vicente? É. O Vicente estava junto? Não. Estava com duas alianças e um menino, neto dela com certeza. Será que o Vicente morreu da praga do Calixto? Acho que não, porque eu procurei o traseiro da Oldalisa e nada da olda, só mesmo a lisa, magra e murcha. Ter encontrado a Oldalisa expropriada de seu dote mais tentador deixou Teodoro bem filosofante sobre as agruras do corpo. Teria ele também sido um apaixonado da Oldalisa e eu corrido sérios riscos? Porque amor não olha idade, não é mesmo? Agora, daquela do escritório eu tive, medo não, por causa de meus outros poderes, tive inveja. A uma cintura de vespa seguia-se, instruída e fatal, o que a Oldalisa trazia com inocência. Batia à máquina, agarradinha no Teodoro, de saia justa e batom cor de sangue. O apelido dela na firma era Corrosiva, e foi Teodoro quem pôs. Se chamava Rosiva, a perigosa. Imagina o risco que eu corri.




Adélia Prado - Filandras.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Formas de mulher...


Perfeição
formas
mulher bela
de grande beleza
formosa
linda donzela.
Solteira,virgem
á imagem de Maria
inocente
ingénua
pura irrepreensível
moça inocente
perpétua
impressionável,comovente
sensível...

Leitura


Gostar de ler é trocar horas de tédio por outras deliciosas .

Janela do Sonho.




Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

O Tempo e a Vaidade .




Olhamos para o tempo passado com saudade, para o presente com desprezo, e para o futuro com esperança: do passado nunca se diz mal; do presente continuamente nos queixamos, e sempre apetecemos que o futuro chegue: o passado parece-nos que não foi mais do que um instante; o presente apenas (mal) o sentimos; e julgamos que o futuro está ainda mui distante. Para dizermos bem do tempo, é necessário que ele tenha passado, e para que o desejemos é preciso considerá-lo longe. A vaidade faz-nos olhar para o tempo, que passou, com indiferença, porque já nele fica sem acção; faz-nos ver o presente com desprezo, porque nunca vive satisfeita; e faz-nos contemplar o futuro com esperança, porque sempre se funda no que há-de vir; e assim só estimamos o que já não temos; fazemos pouco caso do que possuímos; e cuidamos no que não sabemos se teremos.

Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pederneira.


Pederneira. Substância muito usada no fabrico de corações humanos...

"Grande Homem..."







"Quem faz jus ao título de "grande homem"?
Não sei...
O homem inteligente?
Não basta ter inteligência para ser grande...
O homem poderoso?
Há poderosos mesquinhos...
O homem religioso?
Não basta qualquer forma de religião...Podem todos esses homens possuir muita inteligência, muito poder, e muita religiosidade - e nem por isso são grandes homens.
Pode ser que lhes falte certo vigor e largueza, certa profundidade e plenitude, indispensáveis à verdadeira grandeza.
Podem os inteligentes, os poderosos, os virtuosos não ter a verdadeira liberdade de espírito...
Pode ser que as suas boas qualidades não tenham essa vasta e leve espontaneidade que caracteriza todas as coisas grandes.
Pode ser que a sua perfeição venha mesclada de um quê de acanhado e tímido, com algo de teatral e violento.
O grande homem é silenciosamente bom...
É genial - mas não exibe gênio...
É poderoso - mas não ostenta poder...
Socorre a todos - sem precipitação...
É puro - mas não vocifera contra os impuros...
Adora o que é sagrado - mas sem fanatismo...
Carrega fardos pesados - com leveza e sem gemido...
Domina - mas sem insolência...
É humilde - mas sem servilismo...
Fala a grandes distâncias - sem gritar...
Ama - sem se oferecer...
Faz bem a todos - antes que se perceba...
"Não quebra a cana fendida, nem apaga a mecha fumegante - nem se ouve o seu
clamor nas ruas..."
Rasga caminhos novos - sem esmagar ninguém...
Abre largos espaços - sem arrombar portas...
Entra no coração humano - sem saber como...
Tudo isso faz o grande homem, porque é como o Sol - esse astro assaz poderoso para sustentar um sistema planetário, e assaz delicado para beijar uma pétala de flor.."



Huberto Rohden

Fêmea...


Mulher
esposa
amásia
senhora na corte da rainha
matrona quando quer.
Soberana ao reinar
fêmea fecunda
num ardente desejar.
Mulher
concubina
dona do seu corpo cobiçado
amante só de quem ama
mulher á toa
mulher da vida
meratriz desejada...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

É mais fácil amar o retrato.


“É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava.... E então, inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados”

Rubem Alves

Quadras de madrugar.


Passeei noite dentro
até ao romper da madrugada
vislumbrei no sol nascente
o rosto da minha amada.

Meu amor não te vás embora
não me deixes sozinho
vem para junto de mim
dá-me o teu carinho.

Não me deixes só
nesta aflição desmedida
quero o teu amor
não a tua partida.

Neste vai e vem constante
acordei espantado
afinal era um sonho
agora já posso dormir descansado.

Emoção.



Pois, A emoção é decerto uma forma de subir mais alto. E quando caio, de cair de mais alto. Tenho que ser sereno. Porque mesmo que caia, não mago-o tanto ...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Comemorações


Comemorações do Centenário da República em Constância até Outubro de 2010

Aspectos relevantes da Constância republicana
no Boletim Informativo Municipal

A República Portuguesa vai fazer 100 anos. A 5 de Outubro de 2010 completa-se um século sobre a data em que o ribatejano José Relvas, proclamou o novo regime, a partir da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. Nos dias seguintes, todo o país fez o mesmo e uma enorme onda de entusiasmo percorreu Portugal, dando vivas à República.

Em Constância, terra de fortes tradições republicanas, a implantação da República foi acolhida com júbilo e, como por todo o lado, as pessoas viram no novo regime uma espécie de panaceia capaz de resolver todos os problemas do país.

Seguiram-se tempos de muita mudança, de algumas realizações e de bastantes desencantos. Em Portugal inteiro e em Constância também. Amada por uns e odiada por outros, sinónimo de renovação ou de desregramento, sonho ou desilusão, a I República, que vigorou escassos 16 anos, até 1926, foi das fases mais intensas da História política portuguesa e marcou profundamente o país e o nosso concelho.

Assinalando o Centenário da República, o Boletim Informativo da Câmara Municipal de Constância está a publicar, desde Outubro de 2009 até Outubro de 2010, um conjunto de seis textos sobre aspectos relevantes da Constância republicana.

Centenário da República
nas escolas do concelho

Além dos textos temáticos publicados no Boletim Informativo o Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill e do Museu dos Rios e das Artes Marítimas está a comemorar o Centenário da Implantação da República realizando um projecto junto das escolas do concelho com vista à elaboração de uma exposição temática.

A iniciativa procura a participação e o envolvimento dos alunos das escolas e dos pais, tendo como principal objectivo explicar aos mais pequenos a Implantação da República e a sua importância na História de Portugal, através da realização de trabalhos, recolhas de objectos, de histórias e de alguns jogos.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar o Museu dos Rios e das Artes Marítimas ou a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, através dos números de telefone 249 730 053 ou 249 739 367, respectivamente.
Por CMC

Literatura.


Sinopse

A obra-prima do maior escritor de culto da actualidade
Toru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade, vê a sua vida transformada após o telefonema anónimo de uma mulher. Começam a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida.
Este livro conta com uma galeria de personagens tão surpreendentes como profundamente autênticas e, quase por magia, o mundo quotidiano do Japão moderno aparece-nos como algo estranhamente familiar.
Crónica do Pássaro de Corda, ao qual foi atribuído o Prémio Yomiuri, é considerado, por muitos, a obra-prima de Murakami.